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terça-feira, 19 de outubro de 2010

CRÔNICA COMO HISTÓRIA


A crônica como gênero literário tem assumido um grande valor histórico, pois seu caráter de gênero específico e autônomo tem contribuído às pesquisas históricas. Os historiadores têm com freqüência recorrido a esse gênero para auxílio em suas investigações do passado e tem reconhecido nas inspirações dos cronistas uma fonte legítima na busca do conhecimento da realidade histórica de uma determinada sociedade. Desse modo pode-se dizer que a crônica é na sua essência, uma forma de arte, manifestada através de palavras, com um sentido forte de lirismo.

O significado desse gênero ultrapassa mais de um século, pois antes de ser concebida como arte relacionava-se com o relato cronológico dos fatos sucedidos em qualquer lugar. Em grego “Cronos” designava tempo, daí a crônica ser compreendida como gênero histórico. Mas, esse conteúdo há muito desapareceu, permitindo mudanças de sentido que atualmente estão estritamente vinculados ao campo exclusivo da literatura. “Ela passou a obter um significado mais preciso, embora polêmico, como um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima ante o espetáculo da vida, das coisas e dos seres”.(1)

Do espetáculo da vida, a crônica começa ocupar um espaço na imprensa jornalística. Daí há uma grande discussão sobre a dificuldade de sua classificação, enquanto gênero literário ou histórico. Como gênero literário possui relativa autonomia, advindo da imaginação criadora, visando naturalmente o despertar estético e não o interesse de informar, ensinar ou mesmo orientar o leitor.

Nesse aspecto, contrário ao estilo jornalístico, a crônica só utiliza o fato como pretexto, enquanto o jornalismo vê no fato seu objetivo, a matéria em si. O cronista quando recorre ao fato é para retirar o máximo proveito, como um objeto para a imaginação, isto é, para ser recriado. É nesse sentido que a crônica teve que superar suas condições jornalísticas, buscando construir uma vida além da notícia, seja enriquecendo a notícia com elementos de tipo psicológico ou como humor.

Assim a crônica adquire uma forma literária autônoma, comunica-se através de uma linguagem dos indivíduos na sociedade. Trata dos pequenos detalhes da sua vida social, fazendo um relato em permanente relação com o tempo, de onde tira, como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido. Isto pode ser aplicado ao discurso da história porque sua constante atividade crítica movimenta o exercício da lembrança e da escrita.

Nesse sentido, a crônica pode ser caracterizada como ferramental útil para realizar um estudo histórico de uma sociedade. A ordem e sua coerência não são elementos de distinção, pois seu caráter de ambigüidade faz dela um gênero específico na literatura o qual, não raro, a conduz ao conto, ao ensaio, por vezes, e, freqüentemente, ao poema em prosa. Desse modo, as crônicas não são puro jornalismo ou reportagem. Somente a ligação com a vida cotidiana é que situa a crônica bem próxima do jornalismo, mas diferenciando-se por não ter aquela característica impressionista, de experiência de choque, transmitida como uma mercadoria para o consumo em massa.


O cronista, artista solitário perdido no mundo da informação, busca na crônica o meio de satisfazer seus desejos, suas emoções, seus sonhos irrealizáveis e através dela manifestar seu descontentamento com os projetos de vida compostos no interior de sua sociedade. E, pode se dizer que, é difícil encontrar homens que consigam se comunicar melhor que o cronista. A crônica, esse meio comunicativo, insinuante e ágil é por natureza a arte do cronista. Arte da palavra buscando transformar o significado do dia a dia presente na vida dos homens e mulheres de toda uma comunidade.

Nesse sentido, a crônica constitui-se fundamentalmente como um gênero literário, que fala do tempo e da vida humana, que conserva na memória pequenos dias vividos pela sociedade. Situa-se justamente além da notícia, mas no limite da transmissão de experiências vividas pelos homens em sociedade. Em suma, “situa-se bem perto do chão, no cotidiano da cidade moderna, e escolhe a linguagem simples e comunicativa, o tom menor do bate-papo entre amigos, para tratar das pequenas coisas que formam a vida diária, onde às vezes encontra a mais alta poesia”. ( 2 )

Expostas as principais características da crônica, cuja função é relatar literariamente pequenos acontecimentos de uma sociedade, faz-se necessário recorrer aos cronistas londrinenses que construíram imagens sobre a cidade. Como veremos, alguns tomaram como referencial da modernidade em Londrina, o surgimento, a evolução e a expansão da imprensa local. Outros revelaram interesse pelo desenvolvimento da cultura e por experiências dos anônimos que aqui desembarcaram. Deixemos falar o cronista:


A IMPRENSA EM LONDRINA

“Com o surgimento da cidade, despertou o interesse aos jornalistas locais a criação dos primeiros periódicos. E nesse sentido, em 1934, apareceu o primeiro jornal, denominado “PARANÁ NORTE”, editado e redigido pelo seu proprietário H. Puiggari Coutinho, que teve uma vida de oito anos.
Secundou-o a “Gazeta de Londrina” de propriedade de George F. Coutinho, que sob sua direção circulou por alguns anos, sendo o seu primeiro número de 16 de Julho de 1944.
Seguiu-o “Município”, ainda do referido jornalista, com a circulação de cerca de dois anos.
Humberto Puiggari Coutinho, no entanto, foi o decano dos jornalistas de Londrina. Morreu há certa de dois anos com a avançada idade de 92 anos, deixando numerosa e valorosa prole nesta cidade e Mato Grosso.
Natural de Cirica, litoral paulista. Freqüentou a escola de Cadetes em 1893, da Praia Vermelha. Veio para Londrina em 1933, Escreveu “Nas fronteiras de Mato Grosso”, “Londrina e sua história, no jubileu de prata da cidade”
Foi vigoroso periodista, bom escritor, dotado de sensibilidade humana.
Prestou bons serviços à coletividade, levando vida pobre e honesta.
É esse o retrato do nosso primeiro jornalista.
No decorrer desses longos anos existiram muitos outros jornais na cidade, entre os quais: “Folha de Londrina”, diretor Jamil Elias; “O Furo”, diretor Dicesar Plaisant Filho; “Semanário Esportivo”, diretores Abrahão Andery e Dicesar Plaisant; “Correio Paranaense”, diretores Pedro Vergara e Mario Fuganti; “Gazeta do Norte”, diretores Vitor Bosso e Francisco Tuma; “O Combate”, diretor Marinosio Trigueiro Filho; “Folha do Povo”, diretores Osmario Batisaco e Daniel Gonçalves; “A Voz do Campo”, diretor Hilário Correa; “O Reporte”, diretor Renato Melito; “A Voz do Norte”, diretor Floriano Mendes; “Realizações Brasileiras”, revista de Gustavo Branco e F. Mioni.
A grande empresa jornalística, todavia, que iria aparecer foi a “Folha de Londrina”, de João Milanez.
No ano de 1947 apareceu aqui em Londrina, a procura de um lugar ao sol, um catarinense que desejava se engajar na corrida do progresso regional – chamado João Milanez.
O apresentado havia chegado em 1947 de Criciúma, Santa Catarina, para tentar uma situação econômica-financeira estável nestas paragens.
Aqui chegando a princípio quis montar uma oficina de portas e batentes, mudando de idéia em seguida, para montar um jornal em sociedade com o sr. Correa neto.
O primeiro volume saiu em 29 de outubro de 1947.
Logo em seguida retirou-se Correa Neto, voltando para São Paulo, ingressando em seu lugar Fulgencio Ferreira Neves, Aquiles Pimpão, Abdoral Araújo e Eufrozino Lázaro Santiago, os quais também se retiraram em 1950, ficando sozinho João Milanez.
Era um jornal provinciano, com extração semanal.
Um grande marco na história do jornal, no entanto, se deu em 27 de Abril de 1952, quando passou a diário.
A princípio, quando a redação estava na Rua Duque de Caxias, esquina da Rua Pará, era o próprio João Milanez que carregava os jornais em grande volume da redação até a sede do jornal sito à Rua Minas Gerais.
De pequeno jornal, passou a ser rodado semanalmente impresso em velhas máquinas, passando anos depois para linotipos e hoje em “off-set”, como dos melhores do Paraná.
Atualmente tem prédio próprio na Avenida Rio de Janeiro, constituindo-se numa das melhores empresas jornalísticas do sul do Brasil, circulando pelo Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo. ( 3 )

Reconstituindo a realidade dos fatos históricos da imprensa em Londrina, o narrador auxiliado pela memória e pela imaginação, procura expor a evolução do jornalismo na cidade desde a década de 1930. Narra com poucos detalhes os principais jornais que apareceram e desapareceram com o desenvolvimento da cidade.

Neste contexto é importante registrar que o cronista busca preservar tão somente a memória ( 4 ) dos proprietários dos jornais que mais se identificaram com o caráter pioneiro da cidade, isto é, ficava claro a presença de uma estrutura de grupos econômicos que dominaram a vida cultural visando a conservação da idéia de progresso relacionada à idéia de modernidade da cidade de Londrina. Não é sem razão que o nome do jornalista Edison Máschio não aparece em nenhum momento nesta relação dos pioneiros da imprensa em Londrina, pois havia uma tendência consciente de ocultar ou deslocar ao esquecimento, profissionais da área jornalística que não se identificavam com o pensamento do poder dominante nos meios de comunicação de Pequena Londres

A atuação impar de Máschio, fiel aos fatos, criou um certo mal estar na sociedade, uma vez que, seu perfil analítico e crítico desagradava a tradição mais conservadora da belle époque londrinense. A leitura e o entendimento que tinha da realidade social, dos cenários de euforia, enriquecimento lícito e ilícito incomodava os “barões do café”. Máschio era contrário aos conceitos políticos e morais que degradavam a imagem da cidade de sua época. Não permitia a distorção da realidade e a omissão dos fatos verdadeiros, levava a sério a profissão que ajudou a difundir, e que seguiu até a sua precoce aposentadoria. Talvez seja essa a razão pela qual não foi compreendido por muitos poderosos que manipulavam as instituições políticas e sociais dos anos 50/60. Foi um escritor com opiniões próprias, embora tivesse semelhanças físicas com o imortal Kafka, e engajava-se na literatura Sartreana, a qual defende o compromisso político dos escritores com o seu tempo. Começou, então, a escrever ficção de boa qualidade. Também não foi compreendido, pois muitos poderosos se identificavam com um ou outro personagem do romance, o que lhe causava aborrecimento na sua vida profissional. Acredito, porém, que a sociedade londrinense atual não pode deixar fora da história de nossa cidade um cidadão tão fiel aos costumes e à origem dessa terra e muito menos esquecer suas duas obras* de ficção, condenadas à morte no passado e desconhecidas no presente.

Na verdade, a questão em jogo era o processo de instalação dos veículos de comunicação: instrumentos de poder da burguesia, meios de difusão da ideologia do progresso (tão caro aos colonizadores), e a luta pelo poder e pelo reconhecimento do status de pioneiro da cidade. Tudo isto era muito estranho a um jovem jornalista, assustado com as conseqüências desse progresso, com o fluxo crescente de emigrantes vindos de vários estados do país, que muitas vezes atraídos por propagandas duvidosas acabavam se aventurando num território que caminhava lentamente à procura de uma identidade, à busca de um povo, de uma cultura, de uma origem. Certamente esta era a preocupação de Máschio, que não se identificava como um aventureiro, tampouco como um pioneiro e buscava se desvincular de uma realidade confusa; de qualquer forma tinha raízes no campo, o que lhe dava um certo status semelhante a um simples narrador camponês. Ainda não havia uma distinção clara entre colonizador e desbravador, pois quase todos os cidadãos eram reconhecidos como aventureiros, ou seja, pioneiros de algum fato histórico.

Foi com o surgimento da imprensa hegemônica( 5 ), que Londrina passou da condição de um pequeno município para um significativo pólo representativo da cultura do Norte do Paraná. Nota-se que naquela época a quantidade e a variedade de jornais era impressionante e surpreendente, pois o número de leitores era bem menor do que exigia o mercado de consumo de informações e cultura, além do fato que, o interesse, o acesso, e o índice de analfabetismo eram fatores que interferiam diretamente no sucesso desse empreendimento. Mas, então quem era os leitores dos jornais londrinenses? Sabemos, pelo espírito maschiniano que era uma parcela extremamente reduzida, pois não havia naquela época uma tradição com sede de cultura, de notícias sobre economia, política, esporte, etc. As pesquisas da época apontavam um interesse pelas reportagens policiais, crimes, relações de infidelidades conjugais, corrupções, dominando quase constantemente os temas de primeiras páginas da imprensa.

Nesse aspecto, o discurso da historiografia londrinense bebeu abundantemente nesta fonte, para subsidiar suas “investigações” sobre o passado como representação da realidade histórica. O resultado é uma história repetitiva e tenebrosa, marcada tão somente por crimes, prostituição e medo. Um Historiador( 6 ) destacou em sua pesquisa acadêmica que: “a Folha de Londrina, com edição diária, consultada de 1952 a 1962, apresentava os fatos de forma sóbria, procurando sempre “dar” a informação, sem “julgamento crítico” dentro de uma pretensa objetividade. Já “O Combate” e a “Gazeta do Norte” caracterizavam-se pela espetaculosidade, dramatização do cotidiano e elaboração de crônicas sobre o mundo considerado marginal”. Daí o fato de considerarmos que já no início dos anos 50 a imprensa local podia ser entendida como instrumento de poder, que produzia os fatos e as imagens de acordo com o interesse da ideologia burguesa vigente.

Daí percebe-se que nos primórdios da história de Londrina já havia uma dualidade discursiva sobre o social e o político. Ambas problematizavam uma divisão clara entre uma ordem burguesa formada por grupos econômicos hegemônicos e uma ordem proletária constituída na sua maioria por indivíduos comuns, trabalhadores braçais, desempregados, vítimas de um processo de exclusão da sonhada riqueza prometida pela propaganda ilusória do lucro fácil e rápido.

Afirma este historiador que havia uma diferença nos discursos dos veículos de comunicação. Uns apresentavam as notícias com mais discrição e outros, detalhavam os fatos: os sensacionalistas . De qualquer forma, estas diferenças de foco distinguiam as notícias sobre a vida “marginal” daquelas sobre a boa sociedade. Quer dizer, a imagem da elite da sociedade era conservada enquanto a do povo ridicularizada.

Por isso a visão que o cronista tinha da história consistia na preservação da “boa sociedade”, da boa imagem da elite que nadava no dinheiro, e era também necessário fazer uma blindagem do “mito do pioneirismo” criando, não raro, ícones heróicos que passavam a ter uma função, uma referência obrigatória no imaginário coletivo da sociedade.

Um exemplo disso é a figura do decano dos jornalistas, o pioneiro Humberto Puiggari Coutinho, falecido com a avançada e gloriosa idade de 92 anos, nas palavras do cronista, “honestamente pobre”. Ora, honestamente é possível que tenha ocorrido, mas pobre seria improvável, pois naquele tempo, para se fazer qualquer investimento era necessário capital, e só tinha recursos àqueles que vinham de famílias com posse. O pobre morria pobre. Mas de qualquer forma precisava-se criar uma imagem ideal de pioneiros, para convencer a sociedade, em geral, de que a história era feita por personagens exemplares, por heróis representativos, por ícones que simbolizavam toda uma saga de bravuras e destemor.

Assim o cronista enumera os “prestadores de serviços à coletividade” (as aspas é dele), o conjunto de proprietários, como coadjuvantes do crescimento da cidade, idealizadores do progresso da região norte do Paraná. Daí a necessidade de primeiro criar o mito fundador e depois difundi-lo até atingir o cérebro e o coração do coletivo social.

Era um sinal evidente de que a modernidade havia definitivamente chegado, pois a preocupação em criar modelos míticos e fechá-los num determinado grupo social correspondia ao desejo e à disposição de travar uma luta pelo domínio e manipulação do processo histórico. Não é sem razão que o cronista dá ênfase à modernização da imprensa a partir do ano de 1947. De um jornal rodado artesanalmente chegou rapidamente a impressão em off-set, o que era um feito histórico, visto o aumento progressivo da população da época, não necessariamente de leitores. Vejamos o que foi constatado por um outro cronista:

“...Em Londrina, da decantada Universidade, a quanto soma
a multidão dos que lêem? Irrisória, não? Passo e repasso e
não vejo mãos empunhando livros. Nos jardins e praças que
fazem os cansados? Nos ônibus que sobem e descem, quem
se ocupa com uma leitura proveitosa? Nas escolas e institui-
ções, nos clubes e associações, qual o calor da leitura sadia?
Qual o resultado – realidade e não camuflagem – das pesqui
sas em livrarias e bibliotecas...” ( 7 )

Trata-se de uma observação da realidade dos anos 50/60, exatamente no momento em que o maior jornal da região passava a circular diariamente. A cidade já contava com mais de cem mil habitantes, e todos os aspectos da vida social encontravam em ebulição, inclusive uma exuberante arquitetura moderna, combinada com o fervor empresarial, fruto da produção cafeeira.

Não se poderia esperar que o desenvolvimento do “boom” cafeeiro pudesse alavancar num mesmo ritmo frenético, a tradição cultural da leitura, como também não seria possível ainda à formação de comunidades de estudos literários ou quaisquer outras. Embora a imprensa fosse um veículo difusor da cultura e do estímulo ao conhecimento e da informação, poucos indivíduos tinham a clara percepção de que a chegada das novas máquinas para o fabrico e a produção de jornais pudessem mudar as condições intelectuais do corpo social. De qualquer forma estas máquinas significavam um presente da modernidade, transformando um ambiente que valorizava, invariavelmente, o “cheiro” do dinheiro. O próprio cronista lamenta que em Londrina, era possível atravessar de ponta a ponta a cidade, passear pelos jardins e contemplar as perobas do bosque sem ser surpreendido bruscamente por qualquer indivíduo carregando um livro. Raramente se via “sombra” de indivíduo parado em frente a uma banquinha de jornais curioso pelos fatos históricos.

Daí que, não podemos afirmar que a imprensa proporcionou um ritmo alucinante do progresso cultural, uma vez que a leitura não modificava a expressão falada e pouco alterava o “pobre” vocabulário do sertão. Ainda tínhamos o hábito de sobrecarregar na fala um erre caboclo e provinciano, do qual era entendido por aqueles recém-chegados como algo estranho a língua portuguesa. Isto realmente era verdade, pois os viajantes profissionais davam notícias de que eram facilmente reconhecidos em qualquer parte do mundo pela pronúncia pesada dos “erres”. Este retroflexo da língua era uma herança deixada pelos britânicos, conseqüência do domínio e exploração colonial inglesa. Por isso torna-se candente o fato de que o jornal representava apenas mais uma mercadoria destinada exclusivamente ao consumo de uma classe social privilegiada – a burguesia. Mas, mesmo não focando o prazer pela leitura, as páginas de colunas sociais e os classificados de compras e vendas eram os mais lidos. Há notícias de assinantes daquela época, que propunham comprar somente estes dois cadernos do jornal, pois economizariam um bom dinheiro no fim do mês. Prova disso em pleno século XXI, esses dois cadernos, juntamente com os recursos do poder público, continuam sendo indiscutivelmente os campeões de consultas, senão a fonte econômica mais importante do jornal.




II


Ao analisarmos o caráter moderno da história de londrina, levaremos em conta o conjunto dos acontecimentos históricos dos anos 50/60. É sabido que lá se formou uma sociedade heterogênea, a qual muitos pioneiros foram escolhidos a dedo pelos exploradores ingleses, levando à elitização de uma pequena camada de colonos e a proletarização do restante da sociedade. Era a condição para alcançar o sucesso rápido do progresso, garantido pela praticidade do enriquecimento milagroso.


Decorre disso que, qualquer novidade que fosse ao encontro do progresso significava um marco histórico. Com a fundação da imprensa não foi diferente.O nascimento da Empresa Jornalística Folha de Londrina, que impulsionou a comunicação no Norte do Paraná, representou uma nova era da comunicação: a cultura de massa. Mas isso, ao mesmo tempo soava estranho, tendo em vista o fato de que Londrina não registrou no passado uma tradição cultural erudita. Não era nem mesmo possível fazer um contraste entre cultura de massa e cultura erudita. Historicamente aqui predominou somente a cultura agrícola, devido à sua identidade com o ambiente social daquela época. Então pressupõe que o nascimento prematuro do jornal vinculava-se mais ao caráter aventureiro de um investimento de risco qualquer, do que um projeto cultural de um povo com tradição letrada. Seja como for, fundou-se a empresa em 1947 e ela cresceu, resistindo a chuvas e trovoadas, isto é, às crises de conjuntura nacional dos anos 50/60.

O plano nacional dessa época coincidiu com a ascensão do segundo mandato do governo Vargas, que havia claramente optado pelo seu nacionalismo estatal, recorrendo ao capital nacional para promover o desenvolvimento econômico do país. Foi nesse período que Vargas criou a estatal Petrobrás e propôs um reajuste de 100% no salário mínimo, mas não suportou a pressão da oposição de Carlos Lacerda, de militares e do setor empresarial. Sentindo a iminência de um golpe de Estado suicidou-se em 1954.

Neste contexto, a instabilidade política do país e o suicídio de um presidente popular provocou uma expressiva comoção do povo londrinense. A Folha noticiou esse fato, inclusive com fotos de Getúlio em manchete. Vargas era considerado o “pai” dos pobres e o londrinense não tinha dúvidas disso. Embora estivesse comprometido com as elites brasileiras, seu populismo criou raízes e fez carreira aqui e em vários Estados do país.

Não se podia esperar desse cenário histórico algo diferente, senão uma desolação total do povo londrinense, que tinha uma relação afetiva com os políticos nascidos do povo, com o carisma hipnotizante de políticos simpáticos à causa franciscana. Aqui este fato foi sentido e levado a sério, devido à grande presença do “quererismo” varguista – movimento político pedindo o retorno de Vargas à presidência - além de não se conformarem com a perda do “pai”, também entendiam que Vargas simbolizava a “mãe” dos ricos e é sabido que a “mãe” é mais generosa, de qualquer forma ambas classes sociais haviam ficado órfãs de um mito político. Mas este luto durou poucos anos, até a chegada definitiva de uma corrente política partidária que levou até as últimas conseqüências a arte de governar a cidade junto com o povo. Este é um capítulo a parte da história de Londrina.

Por outro lado, a década de 50/60 ficou conhecida por uma forte crise na lavoura, ligada a falta de trabalho e más condições de vida dos agricultores, gerando um grande êxodo rural. Na verdade foi uma década de crise em todos os aspectos. Aquela que mais ameaçava Londrina era a do transporte ferroviário, o principal ícone da modernidade. Dependia dele o escoamento de toda produção de alimentos. Constatado um boicote da Rede aos empresários locais, acabou faltando locomotivas e vagões e a cidade ficou num “deus-dará”. Além disso colocou em risco aquele projeto de progresso que não podia morrer. A cidade não podia parar por causa da conhecida “guerra dos vagões” ( 8 ) A saída encontrada foi a abertura de duas pontes sobre o Rio Paranapanema, que aliviou o escoamento da produção de cereais.

Outro fator da crise dos anos 50 foi provocado pelo fluxo migratório que se encontrava a todo vapor, gerando grandes problemas à cidade. Era necessário avaliar criteriosamente todos os candidatos, aceitar ou não aqueles que vinham com “boas” ou “más” intenções conhecer o progresso londrinense. Havia uma espécie de olhar que vigiava as ações dos recém-chegados, uma maneira de controle social comum em pequenas cidades do Norte do Paraná. De qualquer maneira todos eram bem vindos, pois ninguém podia ser acusado antes de cometer algum crime. Na verdade não havia impedimentos a um cidadão comum do mundo desembarcar apenas com uma sacola na estação rodoviária, ainda mais, recém-construída pelo famoso arquiteto João Batista Vilanova Artigas, um expoente da arquitetura nacional. Aliás um imponente monumento que se destacava com suas “abóbodas”, viradas no sentido oposto ao centro da cidade. Era algo realmente moderno e grandioso que, de certa forma, tinha uma semelhança metafórica com a cidade. Aquelas formas de arcos inclinados e virados ao encontro do horizonte infinito também simbolizavam que aqui em Londrina o céu era o limite.

Neste clima eufórico de fluxo migratório, temos a notícia da chegada de mais uma personagem que “buscava um lugar ao sol”. Com um olhar clínico e aburguesado noticiava o cronista:



UM BARRIGA** VERDE NO NORTE DO PARANÁ




Certo dia de 1947 aparecia aqui mais um inconformado com a rotina. Tratava-se do barriga-verde João Milanez.
Cansado da pasmaneira e estagnação de sua terra natal, Meleiros (sul catarinense) resolveu tentar a sorte em novas regiões e aqui bateu.
Já em Londrina, buscou a Associação Comercial de Londrina e a mim, na qualidade de secretário administrativo daquela entidade.
Da conversa que mantive com o mesmo conclui ser uma pessoa de boa conversa, pouca roupa e sem vintém, mas com vontade de vencer, entre os tantos milhares iguais que engrossavam diariamente.
Sem sombra de dúvida, era uma pessoa bem-humorada, disposta a conquistar um lugar ao sol. Nestas plagas norte-paranaenses.
Consultou-me na possibilidade de montar uma oficina de carpintaria e marcenaria – para batentes e portas.
Animei-o de que se tratava ser negócio oportuno e de demanda na praça.
Seria uma boa indústria para a cidade que nascia vertiginosa com suas construções cada vez em maior número.
Interessei-me pelo assunto e pelo novo amigo.
Juntos, procuramos vários prédios, para a instalação da novel oficina. Estava tudo visto e bem encaminhado, para a concretização do ideal do barriga verde.
Bem moço ainda, altura média; louro, com ar risonho e desembaraçado, demonstrando energia e dinamismo, de olhar vivo e penetrante. Tipo decidido e irresignado com a rotina, característica do pioneiro.
Como se viu, ficou tudo bem acertado a respeito da instalação da carpintaria.
Passados alguns dias, o homem voltava à Associação Comercial.
- Boa tarde, Zórtea
- Vim lhe dizer que mudei de opinião. Em Londrina existem muitas oficinas de batentes e portas. O negócio não é bom. Resolvi coisa diferente: vou botar um jornal. Há falta na cidade. Tenho até nome: FOLHA DE LONDRINA. Vai ser pra quebrar, como diz a gíria. Vai ser sucesso pode contar!
- Escuta aqui Milanez: de oficina de carpintaria para jornal tem uma grande distância! Você não é jornalista e sim carpinteiro. Como é que vai ser a coisa, então!
- Olha Alberto, sou homem para qualquer coisa, ouviu?
- E se pôs em campo.
- Arranjou dois linotipistas, depois de comprar pequena tipografia e seu material. Tudo na base da compra a prazo.
- Começou a imprimir o seu jornal A Folha de Londrina. O nome era sugestivo e a simpatia do moço proprietário infundia confiança. A coisa rodou...
- No princípio tudo foi difícil, porém, como o correr dos anos o diário prosperou extraordinariamente, enriquecendo seu dono.
- Fez milagres o senhor Milanez. Conseguiu transformar o jornaleco num grande órgão de divulgação, um dos melhores hoje do Paraná e quiçá o mais aparelhado tecnicamente.
- O jornal circula por todo o Paraná e São Paulo.
- Não devendo o seu feitio aos melhores do país.
- E comercialmente falando, então, fatura uma nota que não tem tamanho!
- Com tudo isso, o Milanez se tornou homem importante econômica e intelectualmente.
- Já entrevistou meio mundo, inclusive o Presidente Kennedy.
- Andou pela América Latina, Europa, Estados Unidos e Canadá.
- Não só provou que é capaz de tocar qualquer coisa como se tornou um dos mais lídimos representantes da boa imprensa nacional.
- A sua estrela brilhou nos céus de Londrina.” ( 9 )


Há um conto, de J.J.Veiga (10), “A Estranha Máquina Extraviada” que de alguma forma tem uma semelhança com esta crônica. O narrador deste conto noticia um acontecimento surgido na província que trata do aparecimento de uma exuberante máquina, deixada na calada da noite por estranhos e rudes homens, em frente a Prefeitura. Ninguém sabia ao certo quem havia encomendado e nem para que ela servia. A máquina passou a ser admirada pelo povo e por uma legião de visitantes que vinham de regiões distantes e ninguém podia tocá-la, instalando-se assim um mistério. A par disso, a máquina passou a operar milagres, mudando os hábitos, as conversas, os interesses da comunidade interiorana. A máquina não tinha nenhuma função, era como um Besouro de ouro, ficava ali, como uma esfinge, cultuada e reverenciada, de modo que toda a vida social da comunidade interiorana gravitacionava em torno dela. A máquina, porém, não podia ser despojada do encantamento que motivava a cidade.

Esta alegoria revela o quanto o progresso e a tecnologia causam estranhamento ao homem comum do sertão, e este fato aconteceu naturalmente em pequenas cidadezinhas interioranas do país afora, pois a chegada da técnica, de novos artefatos e instrumentos começou a perturbar todo o imaginário social local. As pessoas humildes, constituídas por valores arraigados no passado, através dos quais são modeladas suas identidades, acabaram não se comunicando com as novidades trazidas pelo progresso. Daí emergir estas inusitadas relações do homem do sertão com algo novo, com as “máquinas” que invadiram as províncias, sem conhecerem sua função e utilidade, só o fato de estarem presentes na cidade, provocaram mudanças e tensões nas relações sociais da comunidade.

Nesse sentido, há uma semelhança do conto de J.J. Veiga com a crônica, destacada pela conversa entre o cronista e o futuro empreendedor do sertão londrinense. Qual não foi o espanto do cronista ao receber a notícia de um carpinteiro que, em “busca de um lugar ao sol”, decidiu praticamente do “nada”, construir uma empresa vinculada aos serviços de divulgação de idéias de formadores de opiniões. Provavelmente houve um choque cultural entre esta decisão e a comunidade de leitores da época, pois um “carpinteiro barriga verde” (ele não era pé vermelho) transformara-se, da noite para o dia, num empresário das comunicações, senão no “pioneiro da imprensa” de segunda geração. Mas, antes é preciso focalizar nesta narrativa, a sondagem realizada no mercado pelo futuro empreendedor, no qual analisou minuciosamente a vantagem de investir num “formigueiro” bastante explorado. Decidiu não travar concorrência desleal (para ele) com os paulistas e mineiros, conhecidos como habilidosos no ramo, pois dominavam o mercado madeireiro desde a década de 1940. A desistência do ofício de marceneiro e a descrença no negócio de carpintaria abriram-lhe as portas para os meios de comunicação.

Não era estranho o fato de muitos profissionais liberais trafegarem, nos anos 50, de um ramo para outro. Não sabemos, por falta de registro ou mesmo “documentos”, se isso ocorria também na área médica (aí seria um Deus nos acuda). O fato é que a fundação da Universidade de Londrina só foi viabilizada em 1956, e, ainda assim com apenas quatro cursos, graças ao esforço do Professor Zaqueu de Mello, que ao se tornar Deputado Estadual conseguiu aprovar seu projeto junto à Assembléia Legislativa. Nesses anos, os filhos da burguesia sofreram um pouco, pois quem pretendesse cursar uma Universidade precisava se deslocar para as metrópoles brasileiras, decorrendo daí, mutações nas relações familiares. Ao estudar fora da província, esses filhos retornavam à cidade meio rebeldes, com “outras cabeças”, isto é, com comportamentos culturais muito avançados e às vezes estranhos a uma comunidade acostumada ao silêncio da vida.

Apesar dos esforços e do clamor burguês local, o cronista reconhece que, através do “trabalho” era possível vencer as “forças brutas da natureza”. Nesses anos, o que mais identificava um trabalhador era a sua capacidade, disposição e vontade. Se auto-intitulava “homem para qualquer coisa”. Provém disso que muitos prédios e residências foram construídos apenas com a experiência desses homens em noções gerais sobre obras. Mesmo sendo rara a existência de um engenheiro de formação acadêmica, até o momento não temos notícias de desmoronamentos ou implosões de prédios construídos nessa época.

Além do fator “concorrência” não se podia negar o jogo político, como declarou um pioneiro do “tempo das onças”, aliás amigo de Vargas, que “a política é uma bola de cristal e um dado nas mãos”. Era preciso saber jogar, movimentar as peças, acertar nas escolhas. Investir num negócio de carpintaria era como chover no molhado. Todos os trabalhadores do sertão eram experts no ramo, uma vez que, numa região de colonização recente, quem não erguia sua própria casa, dormia no mato. E, nesse tempo, não era raro encontros desagradáveis com felinos selvagens. Daí que, “montar” um jornal era desejo de profundo exibicionismo do progresso, das máquinas, do poder, da cultura e do controle de ideologias. A intenção de “prestar serviços à coletividade”, de fato incomodava a todos. Aliás nos anos 50, quem não prestava algum tipo de serviço era visto como uma “raposa do rabo felpudo” que simbolizava a “picaretagem”, conceito que teve sua época de ouro, uma vez que, este era entendido como uma ação ética quase suportável pelo corpo social.

Esta ética de “prestação de serviços à coletividade” ganhou impulso e notoriedade, haja visto que, nos porões luxuosos das “casas de shows noturnas” era seguida religiosamente. A famosa “Zona Proibida”, que foi cartão de visita da cidade, chegou a ser legalizada por pressão popular, pois além de criar inúmeros postos de serviços era um dos poucos lugares de “lazer saudável”, mas havia quem a reprovasse. Segundo um historiador “pé vermelho”, os jornais davam ênfase ao desembarque nessas terras de uma “avalanche de meretrizes que tomou nossa cidade de assalto e está alastrando por toda a cidade. Nada menos de 6.000 doidivanas, sem nenhum exagero invadiram Londrina( 11 ). Apesar dessa constatação, o poder público fazia vistas grossas, afinal de contas eram “prestadoras de serviços” e nenhum “trabalho digno” devia ser ignorado pelos controladores da cidade. Além disso o comércio do sexo movimentava a economia, gerava impostos e ajudava potencializar o marketing do progresso e do turismo internacional, pois Londrina tinha o privilégio de ser reconhecida mundialmente pela produção de “mercadorias de luxo”. Até a construção, do aeroporto em toque de caixa, o terceiro maior do país em movimento, era condição indispensável à sua sobrevivência econômica.

Este processo histórico é comprovado pelo fato de os proprietários das boates que gozavam de “beneplácito das autoridades”, não raro, eram figuras mais solicitadas nos altares religiosos. Muitos casamentos, denunciava um moralista, contavam com a presença honrosa desses indivíduos como padrinhos de cerimônia, uma vez que, o sonho dessas “meretrizes” era constituir família e conquistar um “lugar ao sol”. Naturalmente muitos filhos legítimos ou ilegítimos dessa época poderiam ter reconhecidas suas duplas cidadanias, um status importante concedido por ocasião de provas de hereditariedade consangüínea, determinando assim, com mais celeridade as árvores genealógicas dessa gente. Destacaríamos as duplas cidadanias com mais candência, a inglesa, a espanhola, a italiana, a libanesa, a alemã, a japonesa, a portuguesa, a africana, a paraguaia, a sueca, a indiana etc. É daí que nasce a nossa miscigenação e aculturação , comprovada num poema em homenagem a Londrina:



“Londrina, cidade de braços abertos
a todos os filhos do nosso Brasil
e a todos aqueles de Pátrias distantes
que aqui confiantes,
sob um pálio anil,
seu lar construíram
e aos filhos se uniram,
de nosso Brasil” ( 12 )


A existência dessa complexa mistura, dessa miscigenação cultural dá a Londrina uma certa identidade, mas cabe aos pioneiros de primeira e segunda gerações e a multiplicidade de nações estrangeiras explicar a verdadeira origem dessa gente, que de alguma maneira sofreu, desde os tempos dos destemidos bandeirantes, uma profunda crise de identidade.

Criou-se, assim, um clima cosmopolita, graças a este cruzamento inter-racial e a adaptação e boa convivência entre essa diversidade cultural. Viabilizou-se uma sociedade aparentemente pacífica. Desse “caldeamento” de cultura, Londrina se beneficiou do empenho no trabalho desses povos “invasores”, quase todos vocacionados naturalmente à “prestação de serviço”. A idéia de ser “homens e mulheres para qualquer coisa”, apenas consolidou um desejo comum à todos: receber a graça de um milagre – o dinheiro. A maioria dos indivíduos de várias procedências, pouca instrução, fincou aqui suas raízes e sonhos, mas apenas uma minoria viu o futuro glorioso chegar, isto é: “o sorriso do dinheiro”.

O “pioneiro da imprensa” foi uma dessas exceções exímio “prestador de serviço”, como declarou o cronista: “Ele fez milagres”, não o recebeu. Em época de crise era consenso local recorrer aos fenômenos sobrenaturais, daí que, Londrina também desenvolveu uma forte vocação à fé religiosa, uma vez que a quantidade impressionante de igrejas sinalizava já uma preocupação dos fiéis com o destino de suas atitudes em busca do juízo final. Claro está que, ao longo do tempo veio se multiplicando em ritmo irrefreado um número incalculável de franquias e extensões de denominações religiosas nunca vistas pela tradição conservadora da cidade.

Além de sua vocação espiritual, os controladores locais, mantinham um procedimento bastante usual de “batizar” os futuros empreendedores. O “pioneiro da imprensa” não escapou dessa prática, era ritual válido, analisar as aparências, as características pessoais e fisionômicas do “pioneiro ideal”, que seguia um modelo padrão, declarava o cronista: “Bem moço ainda, altura média; louro, com ar risonho e desembaraçado, demonstrando energia e dinamismo, de olhar vivo e penetrante. Tipo decidido e irresignado com a rotina, característica do pioneiro” ( 13 ). Essa característica do pioneiro londrinense vinculava-se ao modelo europeu do homem viril. De certa maneira, houve uma injustiça irreparável com a cultura afro-brasileira local, da qual Londrina tem uma dívida impagável, por não mencionar historicamente a contribuição expressiva dessa gente, que também produziu representantes que imprimiram seu modo de sobreviver diante do sucesso e progresso da cidade. Há ainda carência de estudos históricos da cultura negra, dos pioneiros negros, que por alguma razão foram apagados ou mesmo “esquecidos” nos arquivos e registros do “culto ao pioneiro.”

Nesse contexto, compreende-se que o caráter do pioneiro, escolhido a dedo pelos ingleses nos primórdios da colonização, evoluiu-se para um critério subjetivo de análise da performance do indivíduo. Além disso era indispensável aptidão ao trabalho e capacidade de inovar. Portanto, foi a burguesia local que determinou o modelo ideal, o tipo do homem que devia herdar esse título, tradição conservada que, após mais de meio século, ainda se cumpre a cerimônia política de conceder títulos de “cidadãos honorários” aos “grandes prestadores de serviços à sociedade”. Falta à memória coletiva local, um monumento homenageando os verdadeiros “peões do café”, lembrando os trabalhadores comuns. Estes ao morrerem levaram consigo toda uma história não preservada, merecendo ser resgatadas do fundo dos túmulos mais antigos da cidade. A riqueza deixada por esses trabalhadores, decorrente da conquista do progresso material também pertence às gerações seguintes, legítimas herdeiras de uma memória, cuja tradição sempre vinculou à esperança de um progresso social.

Essa tradição de preservar a memória é crucial. Foucault declara que os problemas da história podem se resumir numa só palavra “o questionar do documento”. E logo recorda: “o documento não é o feliz instrumento de uma história que seja, em si própria e com pleno direito, a memória: a história é uma certa maneira de uma sociedade dar estatuto e elaboração de uma massa documental de que se não separa” ( 14 ). No entanto a crônica como um tipo de documento, um registro do passado, é uma representação da história local da época em que foi produzida, servindo como conservação de um passado, memória individual que busca fazer síntese dos acontecimentos históricos. Todavia a memória, “na qual cresce a história, que por sua vez alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens”( 15 ).

Nesse sentido, ao reconstituirmos o vivido do passado no presente, notamos que o personagem “pioneiro da imprensa” é uma síntese de um conjunto de indivíduos que, pela sua identidade revelada pelo cronista, vinculava-se a um ideal burguês, elaborado por uma tradição cultural, guardiã e dominadora da memória coletiva. Daí esse modelo ser referência de um padrão determinado por uma elite local. Não é sem razão que lhe foi conferido o status de “pioneiro da imprensa”, o que possibilitou a preservação da memória escrita, cuja função é o de resguardar uma história construída por vencedores.Resultado disso é o fato de que na luta de classes, permanece a memória dos acontecimentos manipulados pela elite para legitimar o poder e o domínio da burguesia, enquanto precursora do progresso social.

Quando a “estrela do pioneiro da imprensa brilhou nos céus de Londrina” aqui já havia se consolidado o projeto burguês de cultura, a memória dos desbravadores, o discurso sobre o social, e os elementos que, de alguma maneira, correspondiam ao marketing da cidade do café. Nessa época, Londrina se destacou ao ponto ser passagem obrigatória dos candidatos à presidência da República. O próprio JK, quando em 1957, esteve visitando a cidade se impressionou com as homenagens e a hospitalidade do povo. A “multidão enlouquecida” ao ver o avião aterrisando invadiu a pista, e antes mesmo de JK descer as escadas da nave foi colocado sobre os ombros do povo e carregado como um troféu até a sede da ACL (Associação Comercial de Londrina). Testemunha desse fato, o jornalista Schwartz sintetizou o discurso dele: “Como corolário da tese do desenvolvimento, reputo modelar esta cidade Londrina, em face da pujança econômica e financeira, decorrente dos índices alcançados aqui pela produção” (16).

Esse discurso coroava o ambiente político local nos anos 50/60. A burguesia respirava soberbamente, uma vez que, o peso de um presidente da República, senão o criador da futura capital federal brasileira, representava uma crença legítima do progresso no sertão, neste caso, referindo-se tão somente na produção da monocultura do café londrinense. A par disso, JK, foi surpreendido com algumas mudas de café, como recordação simbólica da cidade para ser lembrada dentro do Congresso Nacional e nos belos jardins do Palácio da Alvorada..

Foram anos de relativa tranqüilidade política. Juscelino colocava em prática seu slogan de governo: “50 em 5”, isto é, cinqüenta anos de progresso em cinco de governo, sustentado pelo programa do “nacionalismo-desenvolvimentista”.Este defendia o processo de desenvolvimento do país a partir dos interesses nacionais. JK declarou: “Convém que se compreenda, de uma vez para sempre, que o desenvolvimento do Brasil não é uma pretensão ambiciosa, um desvario, um delírio expansionista, mas uma necessidade vital. Desenvolver para nós, é sobreviver, gravem bem os que estão em condições de colaborar conosco, que não necessitamos apenas de conselho... mas de cooperação dinâmica, e que essa cooperação é altamente rentável a quem se dispuser a ajudar-nos” ( 17 ).

Londrina entrava assim na cena política nacional, cooperando com o desenvolvimentismo brasileiro de JK, o que confirmava sua vocação para liderar economicamente a região Norte do Paraná. Mas, não demorou muito e já nas décadas de 60 o café começou entrar em declínio, em decorrência da crise nos preços internacionais. Daí, surge mais um problema para a burguesia local, que devia buscar rápida solução, agora sinalizando para uma diversificação na economia como meio de sobrevivência. Não é sem razão que numa entrevista recente o pioneiro da imprensa declarou: “uma cidade se faz com chaminés, imprensa e Universidade”. As indústrias não se tornaram realidade, isto é, elemento principal da produção, sendo que a imprensa seguiu sua função e a Universidade começou a dar um novo destino à cidade.


III


Sob a luz desses acontecimentos, “a estranha máquina extraviada”, dava sinais de ter habitado este solo interiorano. Num dia qualquer, mais de meio século atrás, a presença de algo estranho na cidade, aparentemente sem serventia alguma, aos poucos foi se revelando em imagem de culto e reverência. Dependendo da imaginação do leitor sobre o conto; a “máquina” ganhou várias representações: um indivíduo, um hábito, um objeto, um trambolho qualquer, que se tornou símbolo de modernidade, e por conseguinte uma referência desconhecida no cotidiano da comunidade. O não reconhecimento de sua origem, a sua inutilidade, a sua complacência à ordem social, levou o indivíduo ao exercício inconsciente do culto a algo desconhecido. A valorização quase religiosa dessa crença, provocou medo e ao mesmo tempo respeito; sendo que, caso fosse desvendado o segredo da “máquina” corria-se o risco de desencantar toda a tradição e aquilo que sempre habitou o imaginário social poderia cair no ridículo.

Nesse sentido alegórico o conto estabelece uma analogia com as histórias das crônicas londrinenses, sugere uma leitura sobre o significado do “culto ao pioneiro”, promovendo uma reflexão sobre a história da tradição local, de colonização recente. A “máquina extraviada” cria identidades em várias situações, podendo representar: os pioneiros, a off-set, “o pioneiro da imprensa”, a burguesia, ou qualquer outro elemento que, de uma ou outra maneira, invadiram um território estranho e modificaram os costumes locais, rompendo com a tradição e a história.

Em “O Narrador”, Benjamin lembra-nos que: “o cronista é o narrador da história. O historiador é obrigado a explicar de uma ou outra maneira os episódios com que lida, e não pode absolutamente contentar-se em representá-los como modelos da história do mundo”.
(18)

Seguindo este pensamento, vemos a experiência deste narrador:

“Da conversa que mantive com o mesmo conclui ser uma pessoa de
boa conversa , pouca roupa e sem vintém, mas com vontade de
vencer, entre os tantos milhares iguais que engrossaram
diariamente” (19)


O cronista menciona um “fait divers”, ocorrido na cidade que, aos poucos vai tomando uma dimensão de marco histórico, talvez digno de se inscrever na história. O fato inesperado de alguém vir de terras distantes e às vezes hostis aos costumes locais, causou um certo espanto, um estranhamento, mas, como caiu na graça do povo passou a ser admirado e reverenciado. A tradição local, que era resistente ao novo, algo, cede aos apelos da coragem daqueles que, de alguma maneira, se encaixavam num perfil de “bravura” e aventura. Explorar novos territórios era desafiar o imprevisto numa aventura arriscada e sem retorno. Daí que, alguns ganharam o status de pioneiro pelo sucesso obtido no desenrolar das aventuras e foram coroados pelo ideal burguês reconhecido pela comunidade local. O discurso do “progresso”, transmitido de geração a geração desde 1930, correspondeu ao desejo da busca pela riqueza, mesmo tendo que importar seus “pioneiros”. Como a lei era o lucro a qualquer custo, os pioneiros não se iludiram apenas com o café, já havia uma ampla visão burguesa preparando o terreno para diversificar a economia em vários setores, inclusive o da “prestação de serviços”.

Nesse sentido, todo indivíduo ao chegar à cidade, logo na entrada se deparava com uma enorme placa tomada pela seguinte mensagem: “VOLTE, IGUAIS A VOCÊ, AQUI, JÁ TEMOS 10 MIL.

Ao perceber aquela placa encomendada na década de 1940, permanecendo ali desatualizada pelo crescimento populacional de 1950, ficava uma sensação inóspita, com a propaganda e o delírio do poeta: “Promete e não recusa a todos os que a procuram – impulso e arrimo rijo – na mira do triunfo” (20). Era um exagero para quem sonhava se enriquecer milagrosamente. Durante alguns anos ela foi interpretada de várias maneiras. Para muitos anônimos, que buscavam uma vida melhor, era difícil acreditar naquele prejulgamento conservador. Era uma ironia para quem, saindo de uma condição desfavorável, muitas vezes, deixando grande prole para trás e atravessando o país nos rastros das incertezas, de repente, ser engolido por um outdoor severo e obscuro. Ninguém na cidade dava informações sobre quem o instalou. O povo jurava que não sabia de nada. O prefeito evitava dar declarações. Muitos paravam em frente desolados e ali refletiam.

Há neste episódio uma contradição em relação ao “progresso”. Nos anos 50/60, Londrina ainda atraía mão-de-obra barata à lavoura do café, mesmo monitorando os que aqui chegavam. Os controladores da cidade tentavam, de uma ou outra maneira dificultar a permanência desses trabalhadores anônimos por alguma razão. Provavelmente, aqueles que só tinham prole a oferecer à cidade não eram tão bem vindos. Outros não se adaptavam facilmente à terra roxa, “livre de saúvas”. O barro vermelho e as crostas de poeira também foram elementos que influenciaram no abandono das famílias da cidade. Como quer que seja, foram anos difíceis ao trabalhador comum, que via nesta terra uma oportunidade de ascensão social, que raramente acontecia. O slogan da propaganda do “ouro-verde”, onde se nadava em dinheiro, só enriquecia os colonos, os estrangeiros e os proprietários das melhores terras. O imobilismo social imperava, uma vez que era característica da sociedade interiorana de todo o país.

O poeta Baudelaire via a idéia de progresso como um “farol obscuro”, o progresso material jamais levou em conta o progresso humano e a felicidade. Como ser feliz no meio do sertão? Como ganhar dinheiro fácil e rápido através do trabalho? Como buscar um lugar ao sol, se ele é de todos? Baudelaire rechaçava essa idéia de progresso que prometia um mundo melhor aos homens:


“Esse farol obscuro, invenção do filosofismo atual, aprovado
sem garantia da Natureza ou da Divindade, essa lanterna
moderna projeta trevas sobre todos os objetos do conhecimento;
a liberdade se esvai, o castigo desaparece.
Quem quiser ver com clareza na história deve, antes de mais
nada, destruir este farol enganador...” (21)




Essa crítica áspera à idéia de progresso para burguesia, que identificava a riqueza material com o progresso humano, correlacionava, aquela promessa ilusória de que o desenvolvimento tecnológico promoveria também o desenvolvimento social. Esse “farol obscuro”, aliado ao pensamento dominante da burguesia, presente em todos os países capitalistas do mundo, criou mais divisão e distanciamento entre ricos e pobres, principalmente em regiões de colonização recente, como aqui, que se caracterizou como uma extensão do capital inglês.

Londrina não nasceu e cresceu com os braços abertos como os do Cristo Redentor da cidade maravilhosa, uma vez que a burguesia local, exploradora do capital inglês, tratou logo de ocupar todos os espaços, privados e públicos, estabelecendo domínios em todos os aspectos da cidade: social, cultural, econômico e político. O famoso cartão-postal, de pouca cordialidade, demarcando os limites da cidade, símbolo da pura ironia, comunicava a todos os anônimos a intolerância do poder local em relação às práticas e métodos para o enriquecimento. Dava-se o tom da verdadeira acolhida: “esta terra já tem dono”.

Destacando essa idéia de progresso em Londrina, podemos entender que ela esteve fortemente enraizada na busca de se criar um ambiente comemorativo de reconhecimento ao “culto ao pioneiro”. Este, identificado com algum fato histórico relevante ocorrido na cidade. Os anos 50/60 foram ricos em eventos sociais e culturais, transformando o meio urbano num espetáculo da modernidade. Os elementos da modernidade estavam vinculados às demolições de velhas moradias, dando lugar aos novos e imponentes casarões. O moderno também era simbolizado pela introdução de tecnologias de construções verticalizadas. Londrina teve pressa em construir o seu primeiro edifício, na década de 1950. Era um claro desejo de não parar no tempo. Por outro lado, o predomínio do mundo rural começava a desaparecer, surgindo novos problemas de convivência do indivíduo inserido numa coletividade, característico do meio urbano.

Nesse sentido, a importância do “culto ao pioneiro” é de tamanha expressão que, por falta da preservação original de objetos, artefatos, construções e até homens precursores da história local, buscou-se uma classificação de determinados indivíduos “vencedores” , não necessariamente precursores de uma tradição histórica, justificando dessa forma que o pioneiro é aquele que ficou rico porque trabalhou, sobreviveu e construiu a cidade. A par disso, a memória escrita se encarregou do coroamento dessa história de vencedores. A sua preservação foi feita por várias revistas e jornais, comprometidos com a boa e generosa imagem da elite, conservando simplesmente à eternidade o culto das personalidades da societé londrinense. Isto foi confirmado por inúmeras revistas fundadas nesta época. Entre tantas, o lançamento de uma em 1948, com o sugestivo nome: “A PIONEIRA, o retrato do Norte do Paraná” era justificada pelo seu fundador como: “Londrina comporta uma revista de classe”, símbolo do glamour da classe burguesa, essa revista circulou na cidade durante alguns anos, mas como Londrina não lia revistas parou de circular. Seu fundador retornou a São Paulo, sua terra natal, mas deixou aqui o registro de ações burguesas que contribuíram para difundir a idéia de modernidade, respaldada no progresso daqueles que aqui se enriqueceram.



NOTAS BIBLIOGRÁFICAS


1 - ARRIGUCCI Junior, Davi. Enigma e comentário-ensaios sobre literatura e experiência.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 51.

2 - op.cit p.53.

3 - ZORTEA, Alberto João. Londrina através dos tempos e crônicas da vida. São Paulo.
Ed. Juriscredi Ltda, 1975. p. 154-155.

4 - LE GOFF, Jacques. História de memória. São Paulo. Editora da Unicamp, 2003.
Pgs. 469-470

O historiador Lê Goff, sintetiza o conceito de memória coletiva no mundo contemporâneo argumentando que: “a memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia. Mas a memória coletiva é não somente uma conquista, é também um instrumento e um objeto de poder. São as sociedades, cuja memória social é, sobretudo, oral ou que estão em vias de constituir uma memória coletiva escrita, aquelas que melhor permitem compreender esta luta pela dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da memória.


5 - MARINÓSIO Filho/MARINÓSIO neto. História da Imprensa de Londrina: do baú
do jornalista. Londrina: Ed. UEL, 1991. p. 47




O uso do termo imprensa hegemônica se refere a Folha de Londrina, que desde sua fundação em 1947, já se considerava como um jornal qualitativamente melhor que os outros existentes na cidade. Esse fato é confirmado pelo jornalista Marinósio Trigueiros Neto no estudo que realizou sobre a História da Imprensa de Londrina, revelando sobretudo a luta pela sobrevivência dos principais jornais que apareceram na década de 50/60. Nesta época “eram comuns as rixas e tertúlias” entre os mesmos, merecendo editorial em 14 de Janeiro de 1952:

“Hoje o nosso comentário do dia está reservado de pleno direito ao imbecilizado colunista de um certo jornal local, de há muito conhecido pelas suas antipáticas atitudes. Esse cavalheiro cujo nome por um dever de profilaxia moral nos abstemos de escrever, insiste em fazer jus aos minguados cruzeiros – que nem sempre recebe – fazendo críticas desprovidas de todo e qualquer senso”.


A Folha de Londrina não se envolvia publicamente nessas polêmicas, pois considerava-se acima desse nível jornalístico.



6 - ROLIM. Rivail Carvalho. O Policiamento e a ordem: histórias da polícia em Londrina
1948-1962. Londrina. Ed. Uel, 1999, p. 07

7 - ALONSO, Eduardo. Londrina 60: Crônicas de ontem e hoje.: Londrina. Grafmark,
1994. p. 131.

8 - SCHWARTZ, Widson. Poder emergente no sertão: Londrina. Ed. Midiograf, 1997.
p. 69.

9 - ZORTÉA, 1975, op. Cit. P. 180 crônica datada de 26/08/1971.

10- VEIGA, José J. A estranha máquina extraviada:contos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 90-94.
11- ROLIM, op.cit.p48

12- ALONSO, op.cit p.24 – o autor do poema é o poeta Francisco Pereira de Almeida
Junior.

13- ZORTÉA, op.cit p. 182.

14- LE GOFF. Op cit. Citado da obra de Foucault (1969 p.131) na p.536

15- LEGOFF. Op. Cit. p. 536.

16- SCHWARTZ, op.cit p. 170.

17- FAUSTO. Boris (org) História Geral da Civilização brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro,
Bertrand Brasil, 1995. t. III, v 4, p 91.

18- BENJAMI, Walter. Magia e Técnica, arte e política: São Paulo: São Paulo. Editora
Brasiliense, 1985 p. 209.

19- ZORTÉA, op.cit. p.182.

20- ALONSO, op. Cit p. 16

21- BAUDELAIRE, Charles. A modernidade de Baudelaire/apresentação de Teixeira
Coelho: Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1988. p. 36.



*Os romances Escândalos da Província e Raposas do Asfalto, do escritor Edison Máschio foram publicados em 1959. Traçam uma imagem verossímel do contexto cultural da sociedade da época. São caracterizados como ficção, narrativas que configuram as relações sociais, valores, costumes e diversos símbolos da modernidade em Pequena Londres.



** Barriga Verde é um apelido dado ao Regimento do Governador da ilha de Santa Catarina de 1739. Este Regimento era composto por soldados artilheiros e fuzileiros que defendeu a ilha catarinense de várias invasões estrangeiras. Recebeu a alcunha, devido ao peitilho verde característico do seu uniforme. Como provas de lealdade, coragem e disciplina, galhardia e honradez se tornou motivo de orgulho do povo catarinense. Ainda hoje, este povo é conhecido por este apelido que tem um sentido de heroísmo.
Paulo de Tarso Gonçalves é Professor de História em Londrina ( PR )










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