
Segundo o escritor e pensador Milan Kundera: "Todo leitor de uma obra é um leitor de si mesmo", ou seja, toda obra é o espelho de sua vida, do sistema, de todas as coisas que nós vivemos. Esta linha de pensamento serve também para os escritores de prosa e verso de portugal que moldaram a cultura falada e escrita entre os anos de 1198 - 1507, consolidando a língua vernácula lusa, com uma rica historiografia dos poetas palacianos, nos reinados de Afonso V, D. João II e D. Manuel, com amplo apoio do lírico e teatrólogo Gil Vicente
Portugal Passava por um momento de transição, principalmente no campo político com a formação da Dinastia de Ávis e uma nova mentalidade literária, cosmopolita, mas sem perder uma escrita prolixa, entretanto, é um marco na formação da estética e da beleza absoluta, impregnando inclusive os autores trovadores e posteriormente renascentistas. O apetite e a vitalidade dos trovadores luso - galegos ganha força por toda Baixa idade Média, com uma literatura refinada, tanto na escrita erudita quanto na popular, com poesias chamadas de "cantares d'amigo" e "cantares d' amor", enaltecendo a vida campesina e urbana, extremamente popular das meninas casadouras, apaixonadas e com saudades dos seus namorados que foram combater os mouros nas trincheiras. Eis um trecho do poeta, trovador e aristocrata Afonso III:
Vi eu, mia madr', andar
As barcas eno mar:
E moiro - me d'amor
Fui eu, madre, veer
As barcas eno ler ( praia )
E moiro - me d'amor
As barcas eno mar
e foi - las aguardar:
e moiro - me d'amor
As barcas eno ler
E foi - las atender ( esperar )
E moiro - me d'amor
E foi - las aguardar
E non o pu' achar
moiro - me d'amor.
E foi - las atender
E non o pude veer:
E moiro - me d'amor
E non achei i,
O que por meu mal vi:
E moiro - me d'amor
( E non achei lá, o que vi por meu mal:
e moiro - me d'amor )
Nos séculos XV e XVI ocorre a transição da literatura trovadoresca com a renascentista, tendo como principais expoentes Gil Vicente, Camões e Fernão Lopes, ainda com uma mentalidade medieval nas suas obras, tendo uma grande influência da cultura cristã, fruto da formação gótica e conservadora naquele tempo. Fernão Lopes foi um meticuloso historiógrafo, um cronista que valorizava um tom coloquial na escrita lusa, com uma sensibilidade aguçada e novelesca, buscando neste momento um certo distanciamento da retórica e indo em busca da linguagem popular, quase plural nas ideias que estavam em formação com uma literatura moralista e didática no Reino de Ávis, com uma poesia palaciana.
O teatro português ganha notoriedade com Gil Vicente e Camões, no qual ambos gozam do espírito democrático das letras, porém com uma rigorosa influência da cristandade portuguesa. Os textos de Gil Vicente estão carregados de lirismo, uma escrita poética e universal, com um sopro de arte histórica para ser exaltada da mesma forma que a Capela Sistina no Vaticano. Sua escrita mostra requinte nas coisas mundanas, bem de diferente de Camões que apresentava uma escrita moderna e cosmopolita para o seu tempo, fugindo da realidade dos séculos XV e XVI. Tenho para os leitores uma poesia lírica do português Jorge de Aguiar, escrita em 1508:
Coração, já repousavas,
Já não tinhas sojeição,
Já vivias, já folgavas;
Pois por que te sojuvagas,
outra vez, meu coração?
Sofre, pois te não sofreste
Na vida que já vivias;
Sofre, pois te tu perdeste;
Sofre, pois não conheceste
Como t' outra vez perdias!
Sofre, já pois livre estavas
e quiseste sojeição;
Sofre, pois não te lembravas
das dores de qu' escapavas;
Sofre, sofre coração!
( Cancioneiro Geral II )
Enfim, estes poetas e escritores trovadores consolidam definitivamente a Literatura Portuguesa com um tom clássico, uma escrita e linha de pensamento que respingou no renascimento, somando com a litratura barroca, como foi bem mencionada pelo historiador evennementiélle Fernand Braudel, com uma dualidade ( erudito/popular ) influenciando o poeta Dante Alighieri e o escritor Petrarca.
Djalma Augusto
Parabéns amigo Djalma, Volta Redonda ganha mais um espaço de debate cultural, e melhor, organizado e coordenado por um intelectual valoroso como você. Fico feliz por espaços como este que confrontam o monopolio em que se inseriu a discussão de ideias em vários espaços ditos publicos, mas estritamente restritos. Desejo vida longa a seu blog. Adelson Vidal Alves
ResponderExcluir