
Muitos,
em estado transcedental, em sonos profundos, de letargias, tornando – os insensíveis,
em um nirvana para combater os feiticeiros, processados pelos Santos Ofícios,
como ocorreu em Veneza, com insinuações maldosas do inquisidor com este
questionamento: “quando saías em forma de fumaça, como dizes, besuntavas – te antes
com algum unguento ou óleo ou dizias algumas palavras [...] ?. A resposta, com
uma certa aspereza “Não! Juro pelos santos, por Deus e pelos Evangelhos que não
untava e nem dizia palavra alguma [...]”. Acreditavam nas metamorfoses, como
este caso relatado da mulher que virou fumaça ou o caso de uma camponesa
acusada de bruxaria ao relatar ter conhecido uma bruxa que ao morrer, viu um
rato sair da sua boca, acreditando ser o espírito dela em 1589. Muitas
relatavam voos noturnos para lugares distantes, as virtudes mágicas dos unguentos
diabólicos, vista pela cristandade menos ortodoxa como fantasia de pessoas
vulgares, rudes, camponesas ou idiotas em sabás diabólicos.
Os
benadanti, segundo o estudo do historiador italiano, refuta que ficavam armados
com ramos de erva – doce para a batalha contra as bruxas e feiticeiras,
metafisicamente saindo de seus corpos para proteger a fertilidade agrícola em
tempos escassos e evitar a fome, intempéries e definidos pela Igreja como
punição pelos pecados cometidos. A cristianização com ritos agrários domina o
cenário medieval e moderno, dentre eles, o
folclore do lobisomem como elemento que protege a terra e os seus
frutos, seguindo até o inferno para recuperar os alimentos que foram furtados
pelo demônio; uma crença que ganhou notoriedade na Lituânia dos séculos XVI e
XVII, traçando um paralelo com os benadanti. Os leprosos eram também dizimados
ou viviam em uma condição outsider, expressão bem empregada pelo sociólogo alemão
Norbert Elias, com uma reclusão perpétua, rigidez na separação de homens e
mulheres, prontamente autorizada por Filipe V, o Longo, Rei da França em 1321.
O filósofo e historiador Michel Foucault cita em sua excelente obra lida também
por mim “História da Loucura”, que os leprosos eram colocados em leprosários em
um total estado de abandono, com uma “salvação” através da exclusão. Na
pesquisa de Ginzburg, os leprosos tentaram envenenar as pessoas sãs nas fontes,
poços e águas, encarcerando e queimando os réus confessos. Cronistas da época,
dentre eles, Guillaume de Nangis, cita a aliança entre leprosos e judeus para a
eliminação de cristãos, com conspirações orquestradas com capital e a ajuda do
diabo.
Muitos,
perante a Santa Sé, foram mandados para a fogueira e registrada pelo inquisidor
Bernard Gui. A ojeriza da cristandade perante os judeus ainda era maior por
praticarem empréstimos usurários, prostituíam e estupravam as mulheres dos
cristãos mais humildes, que não tinham condições de pagar penhores. Eram
considerados nefastos perante os cristãos, junto dos leprosos, tornando – se no
século XIV em segregação e reclusão, alimentando os estereótipos do sabá, a
reverência ao demônio, a profanação da cruz, atrelados aos feiticeiros, bruxas,
além da marginalização de judeus e leprosos, levou a Europa em um holocausto
silencioso, somente registrado e conhecido em incunábulos como o “Formicarius”
ou o “Tractatus de Strigibis”, publicados por escritores no século XIV,
estudada por este excelente historiador italiano e devidamente guardado na
Biblioteca do Vaticano.
BIBLIOGRAFIA:
1 - GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. Companhia das Letras, São Paulo, págs 255, 2001;
2 - GINZBURG, Carlo. História Noturna: decifrando o sabá. Companhia das Letras, São Paulo, págs 406, 2001.
BIBLIOGRAFIA:
1 - GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. Companhia das Letras, São Paulo, págs 255, 2001;
2 - GINZBURG, Carlo. História Noturna: decifrando o sabá. Companhia das Letras, São Paulo, págs 406, 2001.
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