
A
nata intelectualizada frequentava livrarias que não passavam de quinze no Rio, buscando uma atmosfera mais
civilizada na cena cultural carioca, colocando de uma forma agradável o
convívio entre políticos liberais e conservadores, que falavam, é claro, de
política e literatura, com conversas em cafés e livrarias, frequentada por José
Maria da Silva Paranhos ( o futuro Barão do Rio Branco ), Eusébio de Queirós,
Quintino Bocaiúva e Saldanha Marinho. Os livros em livrarias tinham preços
completamente fora da realidade, fazendo com que escritores e leitores optassem
por bibliotecas, como a Biblioteca Fluminense e a Biblioteca Nacional, cobrando
de 6$000 para levar um exemplar para casa ou 12$000 por adquirir um livro por
semestre em 1858.
Os
livros eram clássicos da literatura portuguesa e francesa, com pouca produção
literária de autores nacionais. Os livros por serem caros, ficavam nas
prateleiras das livrarias, como bem definiu Machado de Assis: “A opinião, que
devia sustentar o livro, dar – lhe voga, cercá – lo, enfim, no capitólio
moderno, essa, com os heróis de Tácito, brilha pela sua ausência. Há um círculo
limitado de leitores; a concorrência é quase nula, e os livros aparecem e morrem
nas livrarias”, escreve o escritor em 1866. Um círculo limitado de letrados que
comercializavam obras literárias como o anúncio do Jornal do Commercio em
agosto de 1865: “Annaes da Camara dos Deputados. Vende – se um pequeno resto de
collecções completas dos annos de 1857, 1858, 1859, 1860, 1861, 1862 e 1863.
Cada collecção formando 28 volumes 120$”. O Rio de Janeiro é uma ilha literária
e cultural em um oceano de iletrados. As tipografias funcionavam com livreiros –
tipógrafos para os clássicos da Literatura Brasileira como “O Guarani”, “A
Moreninha” ou “Memórias de um Sargento de Milícias”, esta última obra, custava
2$ em meados dos oitocentos.
O
Imperador D. Pedro II era um homem também voltado para as letras e atividades
culturais, realizando saraus no Paço Imperial, realizando encontros quinzenais
de poetas e prosadores, como Taunay, Machado de Assis, Porto – Alegre, Carlos
de Laet, entre outros. No mesmo período é criado o IHGB ( Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro ) tendo como protetor da instituição D. Pedro II,
mantendo o ciclo de intelectuais ao seu redor de uma forma paternalista e
imperiosa. O Rio era uma cidade diurna e nada noturna, com uma vida boêmia
inexistente e bem diferente da vida noturna parisiense durante a Belle Époque.
Estudantes de Recife e São Paulo realizavam eventos literários e culturais,
imitando as loucuras do poeta vanguardista Lorde Byron, rompendo com a
literatura anacrônica e seguindo os românticos europeus e nada católicos como o
próprio Byron, mas também Alan Poe, Balzac, Saint – Beuve, Baudelaire, para não
citar Goethe, fugindo da literatura estática, vazia, com um humanismo e retórica
cheia de vitalidade intelectual e uma identidade nacional. A obra “O Guarani”
de José de Alencar tinha um claro propósito de construir uma identidade
nacional através do Romantismo, com o simbolismo de uma jovem loira, bela e
portuguesa com um silvícola em um ambiente in natura e longe da atmosfera
pomposa da Europa.
A
busca da identidade nacional através do Romantismo gerou polêmica entre
escritores brasileiros e portugueses e plenamente debatido pelo português José da Gama e Castro
que dizia: “que os literatos eram brasileiros, porém a literatura que eles
escreveram era portuguesa”, contestado por Nunes Ribeiro ao colocar a língua
como essência de identidade. Busca – se um determinismo geográfico de uma forma
lírica e poética com o Realismo e ruptura com o século XVIII. O século XIX é
uma antítese, voltada para uma nova
identidade literária, rompendo em definitivo com o Trovadorismo, o Barroco e
uma literatura cristã – poética.
BIBLIOGRAFIA
1 –
MACHADO, Ubiratam. A vida literária no Brasil durante o Romantismo, Rio de
Janeiro, Ed. Tinta Negra Bazar, 2010, 392 págs;
2 –
MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro 1816 - 1920,
Rio de Janeiro, Ed. Topbooks, 1995, 560 págs;
3 –
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no
Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1990, págs 166;
4 –
COUTINHO, Afrânio. A Crítica Literária Romântica, Academia Brasileira de
Letras, Rio de Janeiro, 1954, págs 38;
5 –
COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil, Academia Brasileira de Letras, 1956,
págs 380.
Parabéns amigo, o blog está maravilho. Grande talento! Estamos torcendo por vc.
ResponderExcluirAbç.