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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ROMANCES E HISTÓRIAS







Recentemente, tive a grata felicidade de ler a obra “O fio e os rastros: verdadeiro, falso e fictício” do historiador, culto e renomado pesquisador italiano Carlo Ginzburg, professor da Scuola Normale Superiore di Pisa, na Itália, no qual dei uma ênfase no capítulo 4, com o tema “Paris, 1647: um diálogo sobre ficção e história”, sobre o diálogo estabelecido entre a nata intelectualizada, que estudava as raízes literárias com forte conotação histórica e a eliminação do elemento mítico nas obras dos historiadores, tendo como ponto de partida, a ironia de Marcel Detienne com a pesquisa de Moses Finley de encontrar fatos mitológicos nas obras homéricas.

No início da Idade Moderna, podemos encontrar obras com um forte apelo mitológico, uma herança dos helenos para a sociedade medieval, e invadindo o Renascimento com obras, repletas de fatos mitológicos ou romanceados, como “Os Lusíadas” do grandioso escritor português Camões, relatando o momento histórico que os lusitanos estavam passando, ou mesmo, a obra mais recente “História do Cerco de Lisboa”, do magnânimo escritor José Saramago, que enaltece como poucos, o conflito étnico entre mouros e portugueses no século XV, porém os principais atores da saga histórica são mitológicos.

Tive também a oportunidade de ler alguns romances históricos, do historiador e romancista francês Max Gallo ( Foto ), com obras que extraem a cultura francesa, com um forte apelo nacionalista, da formação e consolidação da sociedade, desde a interferência da cristandade e principais atores da Igreja até a consolidação do Estado francês, tendo como ícone Charles de Gaulle. Aqui no Brasil, escritores de grande credibilidade como Machado de Assis, com as obras “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro”, apresentam com nitidez, a mentalidade, a cultura e influências históricas com essas obras.

O escritor italiano radicado aqui no Brasil, Contardo Calligaris, escreveu uma obra: “O Conto do Amor”, enaltecendo o interesse de um jovem italiano, por uma belíssima obra renascentista na cidade de Florença, enfim, um romance que vangloria a cultura das artes italiana, com uma postura detetivesca e inteligente, tentando encontrar caminhos mais curtos para alcançar esta obra da Toscana. A literatura e a história são campos férteis para o estudo e compreensão da mentalidade, porém preciso ressaltar que, os historiadores admiram a literatura romanceada, como ficção, nunca como base para o conhecimento histórico. Como diz a obra do historiador Ginzburg, temos que analisar os fios e os rastros, ou seja, o verdadeiro, o falso e o fictício, com sutileza e inteligência. A erudição dessas obras, pode e até devem entrar nos anais da literatura, com uma qualidade literária excepcional e única, entretanto, não podem ser exploradas como fontes históricas e marketing literário, como fez o escritor Dam Brown com a obra: “Código da Vinci”, estereotipando e construindo uma obra com suposições.



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