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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O LATIM, AS LÍNGUAS VERNÁCULAS E OS DIALETOS


Segundo o historiador das culturas Peter Burke, o estudo social da linguagem e da arte da conversação, só é possível com uma integração entre o trabalho intelectual do sociólogo, linguista e do etnólogo, buscando um diálogo racional das ciências e do entendimento dos tipos de linguagem. O historiador garimpou textos do final da Idade Média – ou início do Renascimento Moderno – para mapear o processo de alfabetização na Itália, construindo uma pirâmide etária cultural dos florentinos, napolitanos, romanos, toscanos, venezianos entre outros grupos sociais na Península Itálica.

O processo de alfabetização das famílias patrícias urbanas dos séculos XV e XVI, fortalecia os laços familiares, a integração de dialetos e do próprio latim clássico, perante a nobreza italiana e o latim vulgar com a massa popular na cultura oral e escrita. A língua latina mostrou a sua força no Sacro Império Romano – Germânico, porém as reformas protestantes de Martinho Lutero, João Calvino e Henrique VIII, popularizou as línguas vernáculas como o alemão, o francês e o inglês.

Na análise do historiador Don F. McKenzie, uma tribo neozelandesa absorveu a língua inglesa durante o processo de aculturação, porém exigiu dos colonizadores do século XIX a preservação do dialeto maori e tradução inclusive da Bíblia para o dialeto. Esta tribo neozelandesa apresentou um comportamento de resistência, procurando manter o seu dialeto. Seguindo a mesma linha, a Igreja Ortodoxa quinhentista, realizou o Concílio de Brest – Litovsk, no Reino da Polônia – Lituânia, aceitando a supremacia papal, desde que pudesse manter o seu culto em eslavo eclesiástico arcaico e traduzindo os testamentos religiosos para a língua eslava.

A formação dos Estados Nacionais contribuiu na integração lingüística da Itália, França, Portugal, Alemanha entre outros Estados, ainda em formação sociocultural, porém os dialetos eram considerados pela burguesia culta européia, algo retrógrado e um impedimento no desenvolvimento do Estado no campo jurídico, político e social. No processo de unificação da Itália ( 1871 ), o dialeto toscano torna – se a língua oficial da Península Italiana, tentando fragmentar antigos dialetos, apesar da resistência dos dialetos napolitano e siciliano. O Paraguai é um país bilíngüe, valorizando, sobretudo, as suas raízes culturais, tendo como leitmotiv o dialeto guarani. Na Espanha, os dialetos tem um peso significativo nas questões políticas, culturais e sociais; dividindo o país com regionalismo ortodoxo, enriquecendo este país Ibérico com galego, basco e catalão, com pitadas filológicas do grego e árabe.

Mesmo assim, o latim não perde a sua força na Idade Moderna e parte da Idade Contemporânea no meio acadêmico e eclesiástico, atendendo um contexto internacional no campo diplomático e jurídico. A língua molda os Estados e fortalece o nacionalismo, desde o século XIX. Na visão de Peter Burke: “Quando a questione della língua surge, ela significa que grandes mudanças estão ocorrendo. O historiador precisa refletir sobre elas”; sem desconsiderar os dialetos que representam culturas locais ou regionais.

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