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domingo, 29 de agosto de 2010

Cultura Popular na Idade Moderna


O historiador britânico Peter Burke publicou uma obra ( BURKE,Peter - Cultura popular na Idade Moderna. Companhia das Letras-2010 ) que alimenta o imaginário humano, com riquezas de detalhes sobre a cultura popular dos europeus entre os séculos XVI e XVIII na Idade Moderna, esmiuçando as relações sociais, desde a Irlanda céltica até os Montes Urais, buscando as relações da força cultural das classes mais baixas e da classe média européia, ainda em formação intelectual e social. Burke mapeia o folk ( o povo ) com suas características socioculturais, com uma narrativa rica em música, literatura, metalinguística, religiosidade e ideias, buscando o estruturalismo da sociedade, uma clara herança do antropólogo Claude Lévi - Strauss, mas aprofundando, principalmente, nas mentalidades do homem, uma herança dos Annales, saindo da cultura erudita, tão forte neste período histórico. Uma nova vertente é implementada com Roger Chartier, Michel de Certeau, Pierre Bourdieu e o russo Mikhail Bakhtin, buscando uma variedade na cultura popular e urbana.

A cultura não era uniforme, nem erudita e muito menos a popular. A essência da cultura popular era a oralidade, em um período em que a maioria dos europeus do Terceiro Estado eram analfabetos e falavam somente o dialeto regional. Bem diferente dos cultos letrados da Igreja Católica e nobres que escreviam e falavam o latim clássico, uma língua vernácula e até o dialeto da sua região. O conhecimento literário era quase na totalidade oral, contos, poemas e estórias eram passados de pai para filho, fatos históricos com imprecisão de tempo e espaço foram fontes culturais de grande relevância nas "tribos" subdivididas em grupos por toda a Europa. Muitas prosas e versos eram regadas de estereótipos, conceitos deturpados de determinados grupos étnicos, como judeus e protestantes, considerados "personas non gratas" perante a nata eclesiástica, com forte apelo apocalíptico, estreitando laços desses dois grupos com práticas de bruxaria e relações com o demônio. Esta belíssima obra, leva - nos para os campos férteis do teatro, comportamento, mentalidade e ideologia. Uma obra consistente e que nos leva para o passado, sem sair do nosso presente.

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