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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Historiografia: paradigmas medievais



Os historiadores medievalistas europeus, representantes dos verdadeiros testamentos intelectuais que alimentam o nosso espírito, relatando a formação cultural, social e intelectual da sociedade européia medieval entre os séculos V e XV da era cristã, dando na maioria das vezes, uma ênfase na formação do Sacro Império Romano – Germânico, logo após a decadência do Império Romano do Ocidente, muito bem relatada na obra do historiador inglês Edward Gibbon: “Declínio e queda do Império Romano”.


A consolidação dessa cristandade como religião oficial do Império, ocorreu em 313 d.C, durante a administração de Constantino na antiga Bizâncio, entretanto, a valorização das relíquias ou ícones só ganhou força após o Concílio de Cartago no século V da era cristã, tendo como um dos principais defensores e patriarca das relíquias, o santo Estevão, um dos principais responsáveis pela lapidação do cristianismo primitivo, segundo o historiador Carlo Ginzburg, com a recente e detetivesca obra: “O fio e os rastros: verdadeiro, falso e fictício”, que enaltece as raízes da cultura iconoclasta no ápice da Idade Média Central.


A formação intelectual era extremamente privada e muito bem monopolizada pelo Alto e Baixo Clero. Cito duas obras de grande relevância: “O nome da rosa”, do erudito escritor italiano Umberto Eco e “Os intelectuais da Idade Média”, do historiador herdeiro dos Annales e hors – concours em Idade Média, Jacques Le Goff ( foto ). A primeira obra que já virou um verdadeiro clássico no campo literário e cinematográfico, critica o monopólio do conhecimento entre os poucos letrados no obscuro mundo medieval, de uma forma que encantaria até o célebre escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle.

A segunda obra mostra a formação intelectual nas principais universidades européias, também prontamente monopolizada pelos intelectuais cristãos, citando a formação da Filosofia de caráter cristão, objeto de estudo de Santo Agostinho, padre Abelardo, São Tomás de Aquino, com uma metafísica aristotélica – tomista e por fim, o trabalho intelectual de Bernard de Chartres, professor e teólogo, um verdadeiro devorador de livros. No campo das mentalidades não poderia deixar de fora, o historiador Hilário Franco Jr, um historiador e professor da USP, que escreveu a belíssima obra “A Cocanha: o mito de um país imaginário”, cujo prefácio pertence á Jacques Le Goff.

Este exemplar entra na estrutura mental da sociedade paupérrima na Idade Media Central, analisando os desejos e os prazeres, principalmente do servo, surgindo um mito de um país imaginário e com abundância de guloseimas, porém a Igreja repreendia com ferro e fogo os desejos da sociedade, definindo a existência de um único paraíso: o de Adão e Eva. A Cocanha era o passaporte para a felicidade e da aposentadoria, numa Europa medonha e ignorante, dizimada por pestes e povos “bárbaros”, enfim, um conceito etnocêntrico e eurocêntrico ( “Nenhuma ilha é uma ilha”: Companhia das Letras, 2005 – GINZBURG, Carlo ).

Citando mais três obras: “O Deus da Idade Média”, “A Bolsa e a Vida” de Jacques Le Goff e “O queijo e os vermes” de Carlo Ginzburg, podemos filtrar o tamanho da força da Igreja. Le Goff descreve na obra “O Deus da Idade Média”, a forte semelhança da cristandade com a mitologia grega, classificando os santos da igreja como verdadeiros deuses, sendo orientado por um Deus superior. Na mitologia grega Zeus exerce o mesmo papel, monitorando Afrodite até o seu filho Hércules, como podemos observar nas bíblias da literatura clássica “Ilíada” e “Odisséia”.

A obra “A Bolsa e a Vida”, relata o processo de transição na Baixa Idade Média entre o feudalismo e as raízes do capitalismo, enaltecendo a ascensão da classe burguesa e os reflexos econômicos naquele período da história. Os juros ( usura ), representam o novo pecado da cristandade, com excomunhão e perseguição de judeus escondidos na mais nova classe. Para terminar, um clássico dos anos 70, “O queijo e os vermes”, que segundo Ginzburg, o queijo simboliza o cosmos e os vermes os anjos, é uma pesquisa do historiador italiano sobre um camponês conhecido como patriarca de um novo espírito crítico, porém a mentalidade medieval cristã ainda persiste no início da Idade Moderna e condenado pela Santa Inquisição. Segundo Le Goff, a Idade Média se estendeu até as portas da Revolução Francesa ( 1789 ).





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