A
maioria dos historiadores e estudiosos da sociedade brasileira do século XIX sabem
que este século deixou como em nenhum outro século anterior um expressivo
número de documentos oficiais ou não, cartas, obras literárias e artigos em
jornais ou periódicos sobre o quotidiano e as relações de força entre senhores,
escravas, forras e mulheres livres no período dos oitocentos. A historiadora
Maria Odila, discípula do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda,
nos leva ao quotidiano e cultura urbana e incipiente da sociedade paulistana
com esta expressiva obra lida por mim. [ ODILA, Maria. Quotidiano e poder em
São Paulo no século XIX. Ed. Brasiliense – São Paulo, págs 198, 1984 ]. A vida
do sexo feminino no século XIX gerou interesse da historiadora, citando
mulheres com descompostura e turbulentas, causando conflitos nas ruas, sobrados
e numa condição que favorecia a inércia da aristocracia urbana. Quitandeiras, empregadas, forras e escravas que
sentiam os efeitos das relações de força entre a sociedade burguesa e os
excluídos, mas, mesmo assim, esta obra fragmenta o conceito ou estereótipo de
uma sociedade absolutamente patriarcal.
O
matriarcalismo urbano existiu, colocando as mulheres pobres; brancas e negras;
forras ou escravas em uma condição de líderes familiares, vendendo quitutes
afro – brasileiros pelas ruas de São Paulo ou viúvas que administravam negócios
de seus falecidos ou ausentes maridos, mantendo a vitalidade comercial com
escravos urbanos, originariamente de Angola, Moçambique e Congo. Sinhás e
sinhazinhas tinham raríssimas aparições devido as badernas, criminalidade e
hostilidades entre escravos, forros e ladrões em uma cidade que crescia
rapidamente. A atividade cultural ou intelectual das mulheres praticamente era
nula, com a polarização do analfabetismo e uma educação com um propósito
maternal e manter a família nuclear, hierárquico, metódico e voltado para o
estereótipo do objeto sexual tanto para as brancas, quanto para as negras
alforriadas ou não.
A
atividade manufatureira era caseira e ganha – pão das mulheres livres ou não,
com a intensificação do plantio de algodão, porém as transformações no país nos
anos oitocentos, foram fundamentais para uma adaptação dos elementos sociais
com a abolição dos escravos, chegada de imigrantes portugueses e italianos em
São Paulo e a urbanização. Um processo “civilizador” corroborado com o
positivismo, fundamental na transformação do município em uma cidade em
formação, numa cidade verdadeiramente multicultural, cosmopolita e rompendo com
o Brasil Colonial.
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