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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Crônicas cariocas e o Modernismo



No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, surge uma nata de escritores, que moldam a literatura brasileira, com textos de grande relevância no processo de construção do conhecimento literário – independente da formação intelectual dos autores – buscando uma reflexão de caráter social, político e cultural. Um dos formadores de opinião era um dos maiores responsáveis na lapidação da língua portuguesa, Machado de Assis: “A história é uma castelã muito cheia de si e não me meto com ela. Mas a minha comadre crônica, isso é que é uma velha patusca, tanto fala como escreve, fareja todas as coisas miúdas e grandes, e põe tudo em pratos limpos”.

Seguindo nesta linha de raciocínio, encontramos outros cronistas que apresentavam suntuosidade na arte de escrever, como Lima Barreto ( 1881 – 1922 ), João do Rio ( 1881 – 1921 ) e Olegário Mariano ( 1889 – 1958 ). O escritor Lima Barreto fez um raio – x das transformações sociais e os reflexos da má administração pública no Rio de Janeiro, principalmente na primeira década do século XX, assolada pela miséria intelectual e social das camadas menos favorecidas, escondidas pelas reformas urbanas, ocorridas na antiga Capital Federal, entre 1903 e 1906.

A escrita foi sua arma, tentando marginalizar o positivismo e enaltecendo os grupos excluídos, afogada na mais profunda ignorância. O povo carioca de baixa renda, foi varrida dos cortiços e expulsa de uma forma fria pelos burgueses ou “donos do poder”. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, Lima Barreto foi um daqueles que fazia a seguinte pergunta na sua época. E agora José? A ironia pertinente era o leitmotiv dos seus textos em 1920: “Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e todo instante, estamos vendo o governo lamentar – se que não faz isso ou não faz aquilo por falta de verba”

O outro crítico das mazelas sociais foi João do Rio ( foto ), que por sinal, sofria uma forte discriminação das elites por ser mulato e homossexual, entretanto, ganhou credibilidade entre os intelectuais do seu tempo, explorando e mesclando uma linguagem moderna, e rompendo com o naturalismo e positivismo, tão presente na cultura de “Ordem e Progresso”. O Rio de Janeiro, enquanto capital da República, passou por uma modernização, com um carimbo da cultura francesa e consolidação do capitalismo moderno, descrevendo a miséria e a agonia dos excluídos nas crônicas do escritor:

“Os delegados de polícia são de vez em quando uns homens amáveis. Esses cavalheiros chegam mesmo, ao cabo de certo tempo, a conhecer um pouco da sua profissão e um pouco do trágico horror que a miséria tece na sombra da noite por essa misteriosa cidade. Um delegado, outro dia, conversando dos aspectos sórdidos do Rio, teve a amabilidade de dizer:

- Quer vir comigo visitar esses círculos infernais?

Não sei se o delegado quis dar – me apenas a nota mundana de visitar a miséria, ou se realmente, como Virgílio, o seu desejo era guiar – me através de uns tantos círculos de pavor, que fossem tantos ensinamentos. Lembrei – me que Oscar Wilde também visitara as hospedarias de má fama e que Jean Lorrain se fazia passar aos olhos dos ingênuos como tendo acompanhado os grãos – duques russos nas peregrinações perigosas que Goron guiava”.

Para terminar, temos um dos principais expoentes da metamorfose literária do século passado, Olegário Mariano, escreveu sobre o comportamento de gêneros, dando ênfase substancial no papel do sexo feminino, mostrando desde o comportamento fútil da mulher burguesa até o glamour da língua francesa, entre as mulheres ditas como modernas, porém o cronista revela nas entrelinhas, os estereótipos sobre a mulher com profundas raízes na cultura patriarcal, herança do Brasil Colônia, mantida na estrutura cristã da família nuclear e conservadora, citando a liberdade das mulheres e a ruptura com uma identidade retrógrada e submissa:

“Muitos são contra. Outros por medo ou covardia
Acham de pôr na idéia entusiasmos supremos.
Que a mulher magra ou gorda, alta ou baixa, seria
Um lírio ornamental no Jardim de Academus

Se é por ela afinal que todos nós vivemos,
Se é dela que nos vem o encanto da Poesia,
Por que havemos de usar processos extremos
E fechar – lhe o portão da douta Academia?

Há um obstáculo só que me parece enorme:
O “habit – vert”. Que fazer? Criar novo uniforme
Ou deixá – la à paisana o templo penetrar?

Os velhos do “Trianon” quase dizem nada
Mas preferem por certo a mulher decotada
Que uma mulher de farda é horrível de se olhar”

No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, surge uma nata de escritores, que moldam a literatura brasileira, com textos de grande relevância no processo de construção do conhecimento literário – independente da formação intelectual dos autores – buscando uma reflexão de caráter social, político e cultural. Um dos formadores de opinião era uma dos maiores responsáveis na lapidação da língua portuguesa, Machado de Assis: “A história é uma castelã muito cheia de si e não me meto com ela. Mas a minha comadre crônica, isso é que é uma velha patusca, tanto fala como escreve, fareja todas as coisas miúdas e grandes, e põe tudo em pratos limpos”.

Seguindo nesta linha de raciocínio, encontramos outros cronistas que apresentavam suntuosidade na arte de escrever, como Lima Barreto ( 1881 – 1922 ), João do Rio ( 1881 – 1921 ) e Olegário Mariano ( 1889 – 1958 ). O escritor Lima Barreto fez um raio – x das transformações sociais e os reflexos da má administração pública no Rio de Janeiro, principalmente na primeira década do século XX, assolada pela miséria intelectual e social das camadas menos favorecidas, escondidas pelas reformas urbanas, ocorridas na antiga Capital Federal, entre 1903 e 1906.

A escrita foi sua arma, tentando marginalizar o positivismo e enaltecendo os grupos excluídos, afogada na mais profunda ignorância. O povo carioca de baixa renda, foi varrida dos cortiços e expulsa de uma forma fria pelos burgueses ou “donos do poder”. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, Lima Barreto foi um daqueles que fazia a seguinte pergunta na sua época. E agora José? A ironia pertinente era o leitmotiv dos seus textos em 1920: “Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e todo instante, estamos vendo o governo lamentar – se que não faz isso ou não faz aquilo por falta de verba”

O outro crítico das mazelas sociais foi João do Rio, que por sinal, sofria uma forte discriminação das elites por ser mulato e homossexual, entretanto, ganhou credibilidade entre os intelectuais do seu tempo, explorando e mesclando uma linguagem moderna, e rompendo com o naturalismo e positivismo, tão presente na cultura de “Ordem e Progresso”. O Rio de Janeiro, enquanto capital da República, passou por uma modernização, com um carimbo da cultura francesa e consolidação do capitalismo moderno, descrevendo a miséria e a agonia dos excluídos nas crônicas do escritor:

“Os delegados de polícia são de vez em quando uns homens amáveis. Esses cavalheiros chegam mesmo, ao cabo de certo tempo, a conhecer um pouco da sua profissão e um pouco do trágico horror que a miséria tece na sombra da noite por essa misteriosa cidade. Um delegado, outro dia, conversando dos aspectos sórdidos do Rio, teve a amabilidade de dizer:

- Quer vir comigo visitar esses círculos infernais?

Não sei se o delegado quis dar – me apenas a nota mundana de visitar a miséria, ou se realmente, como Virgílio, o seu desejo era guiar – me através de uns tantos círculos de pavor, que fossem tantos ensinamentos. Lembrei – me que Oscar Wilde também visitara as hospedarias de má fama e que Jean Lorrain se fazia passar aos olhos dos ingênuos como tendo acompanhado os grãos – duques russos nas peregrinações perigosas que Goron guiava”.

Para terminar, temos um dos principais expoentes da metamorfose literária do século passado, Olegário Mariano, escreveu sobre o comportamento de gêneros, dando ênfase substancial no papel do sexo feminino, mostrando desde o comportamento fútil da mulher burguesa até o glamour da língua francesa, entre as mulheres ditas como modernas, porém o cronista revela nas entrelinhas, os estereótipos sobre a mulher com profundas raízes na cultura patriarcal, herança do Brasil Colônia, mantida na estrutura cristã da família nuclear e conservadora, citando a liberdade das mulheres e a ruptura com uma identidade retrógrada e submissa:

“Muitos são contra. Outros por medo ou covardia
Acham de pôr na idéia entusiasmos supremos.
Que a mulher magra ou gorda, alta ou baixa, seria
Um lírio ornamental no Jardim de Academus

Se é por ela afinal que todos nós vivemos,
Se é dela que nos vem o encanto da Poesia,
Por que havemos de usar processos extremos
E fechar – lhe o portão da douta Academia?

Há um obstáculo só que me parece enorme:
O “habit – vert”. Que fazer? Criar novo uniforme
Ou deixá – la à paisana o templo penetrar?

Os velhos do “Trianon” quase dizem nada
Mas preferem por certo a mulher decotada
Que uma mulher de farda é horrível de se olhar”


Enfim, estes intelectuais definidos como formadores de opinião,
anteciparam e consolidaram o Modernismo de Tarsila do Araral,
Mário de Andrade e Oswald de Andrade, entre outros, com textos
cirúrgicos, atingindo pontos nevrálgicos da sociedade carioca. A
fome, a miséria e a mulher ocupavam os principais jornais e revistas
de uma forma poética, prontamente estudada pelos cronistas. Os
três escritores, hoje, estão no Panteão da literatura brasileira

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