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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O VAPOR DA FILOSOFIA


A formação intelectual e cultural do Estado russo ganha credibilidade entre os eslavos, tendo como os principais pioneiros da intelligentsia, os escritores Tolstoi e Dostoievski ( foto ), que iluminavam a cultura literária russa, com forte apelo do pensamento francês, no governo absolutista da czarina Catarina, a Grande ( 1762 – 1796 ), porém valorizando as raízes da língua russa e a cultura oriental entre os eslavos, abraçando as heranças dos bizantinos, com o primeiro “César” russo, Ivan, o Terrível ( 1530 – 1584 ).

A Revolução Russa ( 1917 ) mudou radicalmente a vida dos intelectuais, devido a perseguição implacável de Lênin, com os formadores de opinião. Toda a nata de pensadores russa e burguesa foi perseguida e expulsa. Lênin queria transformar a Rússia em centro ideológico do mundo, implantando um regime ideológico extremista, e eliminando a cultura acadêmica tradicional da burguesia – cristã.

Alexandra “Tosltaia”, filha do grande escritor Tolstoi, ficou estarrecida quando soube do interesse de Lênin em transformar a casa do seu pai numa propriedade pública, eliminando as raízes culturais e literárias do escritor eslavo. “Tolstaia” tinha um desejo de transformar a casa em um museu ou casa da cultura.

Lênin era antimetafísica e ateu convicto, desprezando o “etnocentrismo romano – germânico”, buscando novos valores e novos “deuses”( ele próprio e Karl Marx ). Vários intelectuais foram presos e obrigados a sair da Rússia, assistindo o aprofundamento da miséria humana, numa Rússia faminta e pedindo grãos para o governo norte – americano, numa época em que o materialismo deveria ser eliminado no Império Soviético. As universidades de Moscou e São Petersburgo fecharam suas portas para os principais intelectuais, dentre os quais destaco Nicolai Losski, um filósofo e estudioso da história da filosofia e do pensamento de Spinoza e Nikolai Berdiaev, um socrático russo e escritor gabaritado, que embarcou no exílio, com os demais intelectuais numa Europa desconhecida, no chamado “Vapor da Filosofia”.

A intelligentsia russa buscou abrigo em cidades como Berlim, Praga e Paris, observando e lendo o principal jornal vermelho Pravda, deturpando as principais atividades intelectuais dos exilados, e o espírito de liberdade, com uma retórica tosca e com o historicismo ( nacionalismo e pan – eslavismo ). A autocracia czarista foi violentamente substituída pela autocracia bolchevique.

O filósofo Schopenhauer foi um crítico do seu tempo, mostrando um mundo cruel, implacável numa selva ideológica com leis duras. O pensamento, é claro, era um reflexo da Europa pós – I Guerra Mundial ( 1914 – 1918 ), buscando uma crítica racional e moderna. A situação dos pensadores era nada boa, passando por privações, como fome e miséria. Vários intelectuais ganharam um trocado criando jornais para os emigrantes russos e intensa atividade literária na Universidade de Praga.

Em Berlim, os pensadores ganharam credibilidade no meio acadêmico, porém a ascensão do nazismo obrigou a burguesia com raízes judaicas, numa nova diáspora, seguindo para a capital francesa. A insegurança e o medo da polícia secreta soviética assustava os russos, como observou um membro da comunidade eslava em Paris:

“Aqueles que não viveram sob o regime soviético podem achar difícil imaginar a psicologia das pessoas que deixaram aquele paraíso na primeira década da nova ordem (...) mas naquela época ninguém que pertencera à velha Rússia podia estar seguro de sua vida e de seu bem – estar até o último minuto de sua existência. Uma palavra descuidada (...) uma batida seca na porta (...) uma carta escrita de forma descuidada. Não conseguíamos descuidar nos livrar da reação instintiva de medo.”

Mesmo assim, a intelectualidade ganhou um relativo espaço no meio acadêmico, dando palestras ou cursos sobre Dostoievski, Pasternak e Tolstoi na Sorbonne. Os filósofos interpretavam as impressões do escritor Dostoievski sobre a metafísica dos russos e a luta constante contra o ateísmo moderno. A luta entre o liberalismo e o marxismo totalitário, exigiu da intelligentsia, uma reflexão sobre as idéias absolutas e relativas, prontamente debatidas por Hegel e Kant no século XVIII, e a busca do martelo de Nietzsche, com o objetivo de estilhaçar a ideologia marxista, com metáforas e pensamento crítico.
O filósofo Heidegger foi um fiel crítico da anticultura metafísica e do materialismo histórico no século XX, agradando o estado soviético, que por sinal, absorveu o positivismo de Augusto Comte. Temos uma síntese do caos russo, com a análise do escritor e historiador russo Andrei Siniavski: “Uma inversão: na União Soviética os cozinheiros começaram a administrar o Estado, enquanto no exterior, exílio, os intelectuais se tornaram cozinheiros (...)” O resultado não poderia ser mais desastroso. De um rico Estado em cultura literária e arte bizantina, tornou – se numa cozinha com cozinheiros cortando e sangrando a história literária da Rússia.

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