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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A ALFABETIZAÇÃO NA ITÁLIA MODERNA




O professor e historiador da Universidade de Cambridge ( Inglaterra ) Peter Burke, fez uma belíssima pesquisa científica sobre a formação da língua vernácula italiana, apresentando paradigmas na alfabetização dos italianos entre os séculos XIV, XV e XVI, esmiuçando quatro estilos de alfabetização com os negócios, família, Igreja e Estado que foram fundamentais na formação cultural e intelectual na terra dos Médici e Dante Alighieri. Segundo o historiador, o uso da alfabetização ganhou um forte interesse na segunda metade do século XX, após o grande interesse de novas nações com o processo de alfabetização e o estudo do caso entre antropólogos e sociólogos nos principais centros acadêmicos dos EUA e Europa, enaltecendo a escrita e a língua latina.

O uso da alfabetização nos negócios foi importante para a consolidação da classe burguesa entre os séculos XIV e XV, exigindo o mínimo de conhecimento contábil e das letras mercantis ( lettera merchantescha ), permitindo desta forma, uma melhor organização do corpo burocrático e na consolidação dos negócios nos anos trezentos e quatrocentos na Itália Moderna. A enorme quantidade de notas, recibos, contratos e livros de contabilidade, assusta até hoje pesquisadores deste período histórico. Segundo Burke, foram encontrados cerca de 500 livros de contabilidade, com uma riqueza de informações, dando ênfase nos cálculos aritméticos dos florentinos na Baixa Idade Média.

O segundo domínio da alfabetização é o familiar, mais especificamente o da família patrícia urbana, analisando as cartas familiares, fazendo uma distinção entre três tipos de documento familiar: os documentos como post mordem, ou seja, testamentos, inventários etc. Estes documentos deveriam ser muito bem guardados em cofres para o caso de uma disputa familiar pela herança do falecido. O segundo modelo de carta tem um forte apelo emocional e até passional, como cartas de esposas a seus maridos, dando detalhes domésticos e de grupos sociais que eram vinculados. O terceiro e último uso da alfabetização familiar, pode ser definido como “memórias”, com ou sem uma mentalidade saudosista, com uma característica de miscelânea, relatada com característica economicista e poética.

Os membros do clero eram obviamente letrados para a celebração de missas e estudo de textos sagrados de caráter teológico, apresentando neste grupo, o maior número de letrados entre os séculos XV e XVI, entretanto, foram encontrados nestes dois séculos, eclesiásticos iletrados que escandalizou membros do Baixo e Alto Clero, porém existiam leigos letrados em Florença, com um nível cultural apurado. Por outro lado, os letrados eram um problema para a Igreja, temendo o avanço da literatura ortodoxa e pagã desde o surgimento da imprensa de Gutemberg ( foto ). O clero temia que os leigos lessem obras “heréticas” numa Europa que sentia os efeitos da literatura protestante, já disponível naquela época. A Inquisição teve um papel fundamental na censura de textos e obras, traduzidas do latim para as línguas vernáculas e condenações, como aconteceu com o moleiro Menocchio ( O queijo e os vermes - GINZBURG, Carlo )

A alfabetização teve uma importância primária na burocratização dos Estados, dando importância no funcionalismo, remonta no mínimo, o tempo da antiga Mesopotâmia com os escribas, que construíram um Estado com leis, implementando uma alfabetização técnica para a sociedade mesopotâmica. No Egito Antigo, segundo o estudo do historiador Ciro Flamarion Cardoso, os egípcios lapidaram o Estado com documentos jurídicos, formalizada pela intelligentsia egípcia. No caso dos italianos, ocorreu uma conexão entre escrita e administração nos estados maiores como Milão, Veneza, Florença, Roma e Nápoles. Estes estados apresentavam relatórios, leis, censos, enfim, dados e registros fundamentais na alfabetização dos estados, permitindo um melhor controle da Igreja sobre o seu rebanho e do Estado sobre os seus súditos. O controle era excessivo inclusive com o sexo feminino. Entre os séculos XIV e XV, alguns homens argumentavam que as meninas não deveriam apresentar qualquer interesse pela escrita e leitura, sugerindo a permanência delas em casa, esperando o seu futuro marido e um total esquecimento da escola.

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