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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

SÓ NÃO LÊ QUEM NÃO QUER



Há de se reconhecer: o brasileiro lê pouco, se comparado a outros países. O problema é educacional e há tempos ele faz parte do dia – a – dia dos cidadãos. Em contrapartida, “nunca na história deste país”, o acesso à leitura esteve à nossa disposição de modo tão caro. Hoje, basta caminhar pelas ruas de grandes centros ou de cidades do interior, para encontrar brechós repletos de títulos de qualidade em suas prateleiras e/ou espalhados pelo chão ou em barracas levantadas pelas calçadas, vendendo livros por R$5,00. Alguns chegam a custar R$1,00.

Colocar a culpa apenas no alto custo dos livros cobrados pelas livrarias espalhadas pelos shoppings do país ( como muitos costumam argumentar ) seria “chover no molhado”, transferir responsabilidades. É claro, temos bibliotecas públicas em péssimo estado e em pouco número ( elas fazem empréstimos de livros, gratuitamente ), jovens e professores desmotivados, a instituição familiar em plena falência e escolas caindo aos pedaços, entre tantos outros problemas

Sendo assim, eximir políticos de culpabilidade seria admitir a desinformação. Tal quadro poderia ser revertido – não importante à porcentagem – caso houvesse mais investimentos em cultura e educação por parte de prefeituras, governos estaduais, e porque não dizer, o Federal. É certo que nossos políticos – nem todos, mas a maioria – entendem pouco sobre o assunto. Basta verificar a baixa qualidade de nosso legislativo ( em todos os âmbitos ) e de representantes do executivo país afora, dia sim, dia não, envolvidos em fraudes.

Dinheiro que poderia ir para a cultura e para a educação é desviado para os mais diversos tipos de falcatruas, fazendo transferências, por vezes, via cueca ( uma das inúmeras formas inventadas por eles para driblar o fisco ). Por conta disto, é mais fácil construir viadutos e pracinhas, para superfaturar tais obras e ganhar um por fora, do que injetar reais ( R$ ) em educação, não importando a idade de quem venha a ser beneficiado. Na contramão do que seria o correto a ser feito, parlamentares e membros do Executivo, insistem em dar às costas para tais evidências, ajudando a desestimular ainda mais o argumento do leitor habitual.

O problema também é que passamos mais tempo à frente da TV e de computadores. Manusear um livro dá mais trabalho do que apertar um simples botão de controle remoto. Exige, discernimento, o que só pode ser obtido, justamente, por meio de leitura de bons autores. Deu no The Economist: “O Brasil é um país de não – leitores”. O texto publicado pela conceituada revista britânica demonstra que o brasileiro lê em média, 1,8 livros não acadêmicos a cada 12 meses. Se comparados a outros países, lê – se, na “terra de Machado de Assis” – conforme estatística apresentada pelo periódico europeu - , “menos da metade do que se lê nos Estados Unidos ou na Europa”.

De acordo com a reportagem, após pesquisa realizada em 30 países, o Brasil ficou na 27ª posição no quesito “leitura” . Nossos vizinhos argentinos ficaram na nossa frente, em 18ª lugar. E os ingleses vão além, pois expõem que nós investimos apenas 5,2 horas por semana em leituras em livros. A Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ ) nos acrescenta dados. Em recente estudo, 60% dos entrevistados disseram preferir veículos mais modernos e rápidos de atualização. De acordo com a UFRJ, só 32% das pessoas ouvidas confessaram gostar de ler.

A leitura no “país do futebol” vai mal, pois a rádio e a internet também superam o ato de ler os livros. Aqui, importante se faz mencionar: não há a intenção de desmerecer os outros diversos meios de comunicação existentes por meio de simples comparação, mas, sim, demonstrar que o livro está em terceiro ou quarto plano para quem vive no Brasil. Em suma, somos um país formado por não – leitores. Argumentos para comprovar tal tese existem aos quatro cantos do Brasil. Mas todos somos, se não culpados, no mínimo, cúmplices, por tal situação. Sendo assim, hoje só não lê quem não quer


Tem um real aí?
Ricardo Nascimento é professor de português, literatura e autor do livro "Vida que Segue".

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