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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O RISO E A ROSA



Como professor de História e historiógrafo, eu pude analisar o filme e ler a obra O Nome da Rosa do escritor italiano Umberto Eco [ ECO, Umberto - O Nome da Rosa. Ed. Difel. Lisboa, págs 500, 2004 ] descrevendo a postura detetivesca e cultural de uma das maiores mentes da intelectualidade italiana. Nestas duas oportunidades eu procurei analisar a seguinte pergunta: Jesus riu? O historiador medievalista Jacques Lê Goff foi em busca das respostas com o trabalho intelectual dos teólogos medievais.
No Antigo Testamento, encontramos palavras que apresentam uma forte ligação com a palavra riso. Temos logo de cara duas palavras: sâhaq, que qualifica “alegre ou positivo” e lâac, que apresenta um riso irônico, zombeteiro ou maldoso. Na cultura grega existem termos diferenciados, porém uma mesma raiz do conceito: gelán, “rir”, e Katagelán, “zombar de”. Na Idade Média o risus ganha um conceito de pecado, voltado para o prazer ainda na Alta Idade Média . Os teólogos deixaram um legado artístico e cultural, com marcas de um Cristo, com um semblante sério ou de sofrimento na cruz com as artes sacras bizantinas e ortodoxas.
O filósofo grego Aristóteles dizia nas suas interpretações, que o riso é próprio do homem, e este questionamento ganhava novas interpretações com autores cristãos, que estudavam o homo risibilis, não no sentido de ridicularizar o homem com uma postura irônica, e sim como um ser que apresenta espontaneamente o riso naturalmente. Os teólogos relatam nas suas análises, que na Idade Média, ninguém ri sozinho. Para Lê Goff: “De que, de quem se ri, com quem se ri?” Como um bom herdeiro dos Annales na França, o historiador foi nas estruturas sociais e nas mentalidades da cultura do riso, de uma forma coletiva e a risada mostra a sociabilidade no mundo medieval.
Na Idade Média Central, o homem cristão apresentava uma leve liberdade com o riso, tendo como o espaço significativo para este exercício, a literatura cômica, tendo estudiosos das línguas latina e dialetos regionais no meio acadêmico. Na chamada Baixa Idade Média o aristotélico Rabelais fez a seguinte declaração: “rir é próprio do homem” . Nem o Rei da França São Luís aguentou o riso na sexta – feira, dia da morte de Cristo. No filme e na obra literária de Umberto Eco, temos um personagem fictício ultra – conservador e monge Jorge de Burgos, como um inimigo cruel do riso numa Igreja recalque, porém o riso não é obra do diabo e sim do homem. Eco refletiu como poucos nesta belíssima obra a dialética e a retórica entre os próprios cristãos a verdadeira concepção filosófica do homem medieval e sua estética em um mundo não tão distante da nossa realidade.

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