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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SAQUAREMAS E ESCRAVOS NO IMPÉRIO DO CAFÉ.






A historiografia tradicional pautou uma ideia bem peculiar, ao definir a cultura agrícola do Brasil Imperial e pós – emancipação da Metrópole portuguesa, numa linha branca e dominadora e negra subjugada, numa condição passiva. O repensar dos historiógrafos ganha notoriedade com vários trabalhos atuais, dentre eles, do historiador Tâmis Parron, com uma bela pesquisa científica, transformada em uma obra voltada para a política escravocrata no Império entre 1826 e 1865 [ PARRON, Tâmis. A política da escravidão no Império do Brasil: 1826 - 1865. Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, págs 373, 2011 ]. A antítese entre defensores do escravismo no Brasil e os abolicionistas é vista no primeiro capítulo do livro, com o pensamento do baiano José de Alencar em 1867, com uma publicação em formas de cartas ao Imperador, como um fiel defensor da escravidão e temendo a desestruturação do complexo econômico e membro do Partido Conservador, aliás, um partido que dominou a cultura política e escravocrata, denominada na época como o tempo saquarema ( 1830 – 1860 ).
Por outro lado, a nata da intelligentsia pró – abolição, defendia o fim da escravidão, como as obras da historiografia do século XIX “A emancipação dos escravos” ( 1884 ) de Rui Barbosa e o “Abolicionismo” ( 1883 ) de Joaquim Nabuco. Estados Unidos, Cuba e o Brasil foram os maiores comerciantes de escravos, mantendo o trabalho nestas respectivas terras para manter aquecida uma economia de algodão no Sul dos Estados Unidos, anil e cana – de – açúcar em Cuba e o café no Brasil. Mesmo assim, debates estavam cada vez mais acalorados no ceio político na capital do Império Brasileiro, e temores com os levantes de escravos, como a Revolta dos Malês ( 1835 ) em Salvador, a Revolta de Manuel Congo ( 1837 ), na freguesia de Pati do Alferes, comarca de Vassouras e a sublevação de escravos na freguesia de Carrancas, comarca do Rio das Mortes, Rio de Janeiro, em que escravos dizimaram a família Junqueira.
Neste momento, os escravos giravam em torno de 60% à 70% nas comarcas e províncias, exigindo cada vez mais o processo imediato da abolição de escravos. A resistência era sentida entre regressistas escravistas, com amplo domínio nas câmaras municipais no Poder Executivo e no momento de crise do Brasil pós – D. Pedro I, no que se refere o Período Regencial ( 1831 – 1840 ) e prontamente combatido pelo padre Feijó. A expansão agrícola fica visível no Centro – Sul do país, no eixo Rio de Janeiro – Vale do Paraíba – Minas Gerais com a ocupação de saquaremas ( conservadores ) nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, alinhados com o Poder Moderador, criado na Constituição de 1824 e tendo como leitmotiv a escravidão legal e ilegal em vilas de Piraí, Valença, Barra Mansa do Barão de Airuoca e Bananal como novas fronteiras do café.
O Império entre 1836 – 1839 teve uma enorme intensidade do tráfico negreiro, com uma porcentagem de 540%, transplantando assim, cerca de 270 mil africanos. Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, este corporativismo favoreceu os regressistas no tempo saquarema e a hegemonia, expressão bem empregada pelo filósofo Gramsci, ao dizer que a hegemonia é obtida mediante a "orientação impressa pelo grupo fundamental dominante a vida social" e o Estado como "aparelho de coerção". Os levantes de escravos incomodava os saquaremas, como no caso da insurreição quilombola de Vassouras ( RJ ), com um forte teor conspiratório contra o senhores do café e a febre amarela, assolando os cativos.

A pressão externa para o fim do tráfico negreiro acirrava os ânimos entre liberais e conservadores. Neste zabumbar, os liberais temiam um confronto militar entre o Brasil e Inglaterra, devido as divergências econômicas e ideológicas sobre a escravidão e a forte pressão do fim do tráfico negreiro, após a criação da Lei Bill Aberdeen ( 1845 ). O visconde de Olinda temia um colapso da economia com o fim da escravidão, mas a ideia do fim do escravismo ganhou força após a abolição da escravatura nos Estados Unidos em 1863, substituindo paulatinamente no Brasil, os negros escravos por europeus e chineses livres, com a total erradicação do sistema escravocrata em 1888 com a Lei Áurea ( Foto ). Como bem definiu o escritor Rui Barbosa:"Ninguém, neste país, divinizou jamais a escravidão", com uma ruptura de um arcaísmo e iniciando um novo Brasil, livre e prestes à implementar a cultura republicana e positivista.

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