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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

POR QUE LER OS CLÁSSICOS?



O escritor e crítico literário Milan Kundera fez a seguinte definição sobre o fato de lermos boas obras, sobretudo obras clássicas: “Todo leitor é um leitor de si mesmo”. Um clássico da literatura nos favorece para adentrarmos nos solilóquios e aforismos dos escritores e dos personagens, em um universo paralelo ou indiretamente fazemos parte dos elementos que compõe uma ficção ou não. Calvino faz a sua impressão ao definir a leitura de um clássico “Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira”. Esta linha de pensamento requer deferência, com a obra do escritor italiano Ítalo Calvino [ Por Que Ler os Clássicos? Companhia das Letras, SP, págs 380, 1993 ], citando obras lidas por ele, como os clássicos homéricos “Ilíada” e “Odisséia”, fontes plurais da cultura helênica e lirismo clássico herdada por todo o ocidente, como essência poética e humana. William Shakespeare e o dualismo amor/ódio na trama teatral e literário “Romeu e Julieta”, marcando a humanização renascentista e a dialética do bem e do mal. “Os irmãos Karamazov” do escritor russo Dostoievski é uma célula do vasto território russo, através da ficção, de uma forma idiossincrática na Rússia pré – Lênin de um Estado feudal falido e socialmente comprometido, angustiando essa sociedade em transição e à margem do arcaico e do moderno.
“Os miseráveis” do escritor Victor Hugo relata as observações sociológicas e de uma certa forma, os resultados da França bonapartista e totalmente à mercê da burguesia, nada sensibilizada com as condições sociais dos denominados “cagots”, tão marginalizados quanto os palestinos no Oriente Médio ou dalits na índia. Dante Alighieri com a sua obra “A Divina Comédia” é um pêndulo de um processo transitório feudal e profundamente estático para o moderno e movimentado mundo intelectual no século XV. Um livro que pode ser definido com um tratado sobre as estruturas mentais do “obscuro” mundo medieval e bem definida por Umberto Eco, uma exigência estética corporal e mental, seguindo a linha metahumana e metafísica
O escritor e historiador Carlo Ginzburg com o seu “O queijo e os vermes” alimenta – nos com um novo olhar histórico, denominado micro – história, buscando a mentalidade do homem comum e do campo, um livro sine qua non na literatura universal e entrelaçando com a história, através de uma nova maneira de construir uma narrativa com pilares culturais e fomentando uma idéia nova sobre a historiografia moderna. Fugindo dos estereótipos entre o Ocidente e Oriente, Calvino menciona a obra “Orientalismo” do escritor Edward Said, não só valorizando o lado intelectual e humano, mas os resultados da interferência européia no Oriente Médio, tendo um valor literário peculiar sobre o monoteísmo islâmico em um mundo que é um mosaico étnico e cultural. Ler clássicos, é claro, muitos não foram mencionados, são fundamentais para abrirmos nossas mentes e entendermos a compreensão sociológica, antropológica, geográfica e histórica do mundo numa linha temporal e única.

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