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domingo, 25 de março de 2012

PARADIGMAS CULTURAIS




A cultura e a história cultural são ciências de grande relevância desde o século XVIII na Alemanha, com a Kulturgeschichte, tendo como pioneiros deste estudo, membros da aristocracia rural e urbana europeia, que defendiam a cultura erudita e consolidava estereótipos da cultura popular, marginalizada e deturpada pelas elites da Aufklarung ou Iluminismo alemão.
Segundo o historiador e antropólogo Michel de Certeau os “valores” que aparentemente eram sólidos, caem por terra, como o patriotismo, regras, ritos destruídos e os “antigos” são desacreditados [ CERTEAU, Michel de. A cultura no plural, Ed. Papirus, Campinas, SP, págs 385, 2006 ]. A ruptura com valores tradicionais atingiu, em cheio, os setores político, religioso e social, filtrada na economia e até na pátria. A educação escolar brasileira, por exemplo, era ensinada no século XIX, a priori, com um conteúdo fundamentalmente cívico, valorizando o aspecto cultural europeu.
A ruptura ganha força no campo físico e intelectual, com valores desacreditados. Muitas vezes, essas rupturas acontecem, explorando a violência contra representações ou instituições, uma recusa ao não – significado. Um sistema social falido, como bem relatou o sociólogo Richard Sennet, com o clássico “Declínio do Homem Público” esmiuçando a crise social na Inglaterra e França entre 1789 e 1848, tendo como sementes dessas crises o socialismo e os reflexos do liberalismo econômico.
A cultura tem linguagem própria, principalmente, como porta de entrada de uma felicidade mitológica, plena, cultivando sonhos que se multiplicam; como férias, aposentadoria, viagens, atendendo todas as classes, como no caso da sexualidade – ficção no ato de ver – um imaginário prazeroso que transgride os valores com voyeurs. A publicidade exerce este papel, principalmente na cultura do consumo, criando um conceito de plena felicidade, nas ruas e nas cidades, com uma linguagem mural e repertório de imagens nos labirintos urbanos.
O corpo também faz parte deste estudo cultural, com o erotismo e o imaginário na sociedade contemporânea, exaltando o deslumbramento do corpo perfeito, a estética na sua essência, templo da saúde, felicidade e bem – estar. As referências, é claro, estão nas academias e revistas com mulheres desnudas como alegoria, uma herança sui generis, da cultura helênica ou grega, com corpos endeusados, entretanto, observamos um verdadeiro atentado ao pudor, sem ser puritano é claro, desde que apresente uma postura teatral. O valor do corpo, ganhou um novo sentido ainda nos primórdios da cristandade, como o corpo de Cristo, não no sentido estético, mas sim, espiritual, alimentando perante as massas, o conceito de “pecado da carne”. O bem estar é essencial no alongamento da vida, mas sem obsessão. Enquanto o homem comum heleno –latino buscava a força corporal, Sócrates fez o exercício metafísico, maiêutico, hermético do seu ser para conhecer a si mesmo e sair da caverna platônica. Hoje, sociólogos e antropólogos usam uma expressão mais moderna como “bolha social”. A ideia, é furarmos essa bolha para que possamos enxergar o mundo de uma forma mais ampla, de uma forma culturalmente, plural.

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