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terça-feira, 24 de julho de 2012

O PROCESSO CIVILIZATÓRIO DO RIO DE JANEIRO: ANTÍTESES, CULTURA LITERÁRIA E IDENTIDADE DO POVO BRASILEIRO NO SÉCULO XIX


O século XIX é considerado no Brasil como um período de intensa produção literária, tendo como precursores, os escritores Joaquim Nabuco, Machado de Assis ( FOTO ), Euclides da Cunha e Joaquim Manuel de Macedo, escrevendo para periódicos como o “Jornal do Commercio” e o “Diário do Rio de Janeiro”, publicando crônicas em folhetins e com a tradução de obras de Victor Hugo, Alexandre Dumas e Balzac. A atividade literária nos oitocentos foi relevante para o público feminino, sobretudo entre as estudantes, desde que tivesse uma intervenção dos conservadores católicos, temerosos com obras de ficção que poderiam desvirtuar as iá ias.
A nata intelectualizada frequentava livrarias que não passavam de quinze  no Rio, buscando uma atmosfera mais civilizada na cena cultural carioca, colocando de uma forma agradável o convívio entre políticos liberais e conservadores, que falavam, é claro, de política e literatura, com conversas em cafés e livrarias, frequentada por José Maria da Silva Paranhos ( o futuro Barão do Rio Branco ), Eusébio de Queirós, Quintino Bocaiúva e Saldanha Marinho. Os livros em livrarias tinham preços completamente fora da realidade, fazendo com que escritores e leitores optassem por bibliotecas, como a Biblioteca Fluminense e a Biblioteca Nacional, cobrando de 6$000 para levar um exemplar para casa ou 12$000 por adquirir um livro por semestre em 1858.
Os livros eram clássicos da literatura portuguesa e francesa, com pouca produção literária de autores nacionais. Os livros por serem caros, ficavam nas prateleiras das livrarias, como bem definiu Machado de Assis: “A opinião, que devia sustentar o livro, dar – lhe voga, cercá – lo, enfim, no capitólio moderno, essa, com os heróis de Tácito, brilha pela sua ausência. Há um círculo limitado de leitores; a concorrência é quase nula, e os livros aparecem e morrem nas livrarias”, escreve o escritor em 1866. Um círculo limitado de letrados que comercializavam obras literárias como o anúncio do Jornal do Commercio em agosto de 1865: “Annaes da Camara dos Deputados. Vende – se um pequeno resto de collecções completas dos annos de 1857, 1858, 1859, 1860, 1861, 1862 e 1863. Cada collecção formando 28 volumes 120$”. O Rio de Janeiro é uma ilha literária e cultural em um oceano de iletrados. As tipografias funcionavam com livreiros – tipógrafos para os clássicos da Literatura Brasileira como “O Guarani”, “A Moreninha” ou “Memórias de um Sargento de Milícias”, esta última obra, custava 2$ em meados dos oitocentos.
O Imperador D. Pedro II era um homem também voltado para as letras e atividades culturais, realizando saraus no Paço Imperial, realizando encontros quinzenais de poetas e prosadores, como Taunay, Machado de Assis, Porto – Alegre, Carlos de Laet, entre outros. No mesmo período é criado o IHGB ( Instituto Histórico Geográfico Brasileiro ) tendo como protetor da instituição D. Pedro II, mantendo o ciclo de intelectuais ao seu redor de uma forma paternalista e imperiosa. O Rio era uma cidade diurna e nada noturna, com uma vida boêmia inexistente e bem diferente da vida noturna parisiense durante a Belle Époque. Estudantes de Recife e São Paulo realizavam eventos literários e culturais, imitando as loucuras do poeta vanguardista Lorde Byron, rompendo com a literatura anacrônica e seguindo os românticos europeus e nada católicos como o próprio Byron, mas também Alan Poe, Balzac, Saint – Beuve, Baudelaire, para não citar Goethe, fugindo da literatura estática, vazia, com um humanismo e retórica cheia de vitalidade intelectual e uma identidade nacional. A obra “O Guarani” de José de Alencar tinha um claro propósito de construir uma identidade nacional através do Romantismo, com o simbolismo de uma jovem loira, bela e portuguesa com um silvícola em um ambiente in natura e longe da atmosfera pomposa da Europa.
A busca da identidade nacional através do Romantismo gerou polêmica entre escritores brasileiros e portugueses e plenamente  debatido pelo português José da Gama e Castro que dizia: “que os literatos eram brasileiros, porém a literatura que eles escreveram era portuguesa”, contestado por Nunes Ribeiro ao colocar a língua como essência de identidade. Busca – se um determinismo geográfico de uma forma lírica e poética com o Realismo e ruptura com o século XVIII. O século XIX é uma antítese, voltada  para uma nova identidade literária, rompendo em definitivo com o Trovadorismo, o Barroco e uma literatura cristã – poética.

BIBLIOGRAFIA

1 – MACHADO, Ubiratam. A vida literária no Brasil durante o Romantismo, Rio de Janeiro, Ed. Tinta Negra Bazar, 2010, 392 págs;

2 – MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro 1816 - 1920, Rio de Janeiro, Ed. Topbooks, 1995, 560 págs;

3 – CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1990, págs 166;

4 – COUTINHO, Afrânio. A Crítica Literária Romântica, Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 1954, págs 38;

5 – COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil, Academia Brasileira de Letras, 1956, págs 380.
   

Um comentário:

  1. Parabéns amigo, o blog está maravilho. Grande talento! Estamos torcendo por vc.
    Abç.

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