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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

FRAGMENTOS DO MODERNISMO


“...E agora um pedido. Tenho uma fome pelo norte, não imagina. Mande – me umas fotografias de sua terra. Há por aí obras de arte coloniais? Imagens de madeira, igrejas interessantes? Conhecem – se os seus autores? Há fotografias? Acredite: tudo isso me interessa mais que a vida. Não tenha medo de me mandar um retrato de tapera que seja. Ou de rio, ou de árvore, comum. São as delícias de minha vida essas fotografias de pedaços mesmo corriqueiros do Brasil. Não por sentimentalismo. Mas sei surpreender o segredo das coisas comesinhas da minha terra. E minha terra é ainda o Brasil. Não sou bairrista.”

( Carta a Luís da Câmara Cascudo, 26/9/1924. In: ANDRADE, Mário: Cartas de Mário de Andrade a Luís Câmara Cascudo. Belo Horizonte/ Rio de Janeiro, Vila Rica, 1991, p.34. )

O escritor e dramaturgo modernista Mário de Andrade alimentou um espírito euclidiano ao exaltar a geografia humana e física do Brasil com uma cultura tupiniquim continental, exaltando um espírito nacionalista, dando ênfase nos “sertões” brasileiros, com uma linguagem simples e sem tecnicismo. Mário de Andrade mapeou as belezas naturais de um Estado oligárquico e com estrangeirismo. A filologia regional está presente entre o sul e o norte do país, mas a língua materna fica oxigenada com os escritores e suas cartas, como podemos observar entre Mário de Andrade e Câmara Cascudo:

“Não sei si já te contei ou não mas em Dezembro estive na fazenda dum tio e...e escrevi um romance. Romance coisa que o valha, nem sei como se pode chamar aquilo. Em todo caso chama – se Macunaíma. É um herói taulipangue bastante cômico. Fiz com ele um livro que me parece não está ruim e sairá em janeiro ou adiante, do ano que vem. Minha intenção foi esta: aproveitar no máximo possível lendas tradições, costumes, frases feitas etc. brasileiros. E tudo debaixo de um caráter sempre lendário, porém como lenda de índio e de negro. O livro quase que não tem nenhum caso inventado por mim, tudo são lendas que relato.

Só uma descrição de macumba carioca, uma carta escrita por Macunaíma e uns dois ou três passos do livro são de invenção minha, o resto tudo são lendas relatadas tais como são ou adaptadas ao momento do livro com pequenos desvios de intenção (...) Um dos meus cuidados foi tirar a geografia do livro. Misturei completamente o Brasil inteirinho como tem sido minha preocupação desde que intentei me abrasileirar e trabalhar o material brasileiro. Tenho muito medo de ficar regionalista e me exotisar pro resto do Brasil. Assim lendas do norte botei no sul, misturo palavras gaúchas com modismos nordestinos ponho plantas do sul no norte e animais do norte no sul etc etc. Enfim é um livro bem tendenciosamente brasileiro.”

( Carta a Luis Câmara Cascudo, 1/3/1927. IN: ANDRADE, Mário: Cartas de Mário de Andrade a Luis Câmara Cascudo. Belo Horizonte/ Rio de Janeiro, Vila Rica, 1991. )

A valorização da geografia brasileira numa perspectiva humana e popular, também foi objeto de estudo por Claude Lévi – Strauss, conceituando o estruturalismo da cultura brasileira e obviamente, somando com o Modernismo das artes e literária dos principais intelectuais das décadas de 20 e 30 do século XX, esmiuçando uma nova mentalidade hermética sobre o novo Brasil, sem desvalorizar o regionalismo singular e plural, tão valorizada pelos escritores vanguardistas.

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