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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O SAMBISTA!


Nesta semana encerra o Ano Noel Rosa, que no dia 11 de dezembro de 1910 “veio ao planeta com os auspícios de um cometa naquele ano da Revolta da Chibata”, em que o “Almirante Negro” assumiu o comando da Armada Brasileira. Foi um acontecimento tragicômico, com a burguesia desvairada e os marinheiros subalternos sorrindo porque João Cândido queria simplesmente acabar com os castigos corporais aplicados na marujada. Depois de ler a biografia escrita por João Máximo e Carlos Didier, concluí que, além da sua grande obra musical, criada em apenas cerca de oito anos dos seus 27 de vida, Noel foi um baluarte na luta contra as discriminações. Com a sua postura, atenuou o preconceito social subindo morros; o racial fazendo parceria com sambistas negros – Alcibíades Barcelos, Armando Marçal, Cartola, Ismael Silva, Heitor dos Prazeres...E o sexual ao manter amizade com homossexuais no tempo em que os gays eram ainda mais molestados. Noel dedicou o samba Mulato Bamba a Madame Satã e respeitava as mariposas noturnas.

No início do ano, o presidente da ABL, Marcos Vilaça, abriu a Casa de Machado de Assis para encontro de intelectuais com sambistas, iniciando as comemorações. No PEN Club do Brasil participei do comovente sarau alusivo ao “Poeta da Cidade”, mas o maior laurel foi feito pela Unidos de Vila Isabel, cantando o samba que fiz, creio, por inspiração do Divino Espírito Santo: “Se um dia na orgia me chamassem/ E com saudades perguntassem por onde anda Noel/ E toda minha fé responderia/ Vaga na noite e no dia/ Vive na terra e no céu/ Seus sambas muito curti com a cabeça ao léu/ Sua presença senti/ No ar de Vila Isabel/ Com o sedutor não bebi, nem fui com ele a bordel/ Mas sei que está presente com a gente neste laurel/ Veio ao planeta com os auspícios de um cometa/ Naquele ano da Revolta da Chibata/ A sua vida foi de notas musicais/ Seus lindos sambas animavam carnavais/ Brincava em blocos com boêmios e mulatas/ Subia morros sem preconceitos sociais/ Foi um grande chororó quando o gênio descansou/ Todo o samba lamentou/ Fez a passagem pro espaço sideral, mas está vivo neste nosso Carnaval/ Também presentes Cartola, Araci e os Tangarás, Lamartine, Ismael e outros mais/ E a fantasia que se usa pra sambar com o menestrel/ Tem a energia da nossa Vila Isabel”. Viva Noel!
Martinho da Vila é sambista, músico e compositor

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