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sábado, 17 de março de 2012

OS INTELECTUAIS E O FUTEBOL.




O sociólogo e escritor Gilberto Freyre era um observador das manifestações culturais e sociais do Brasil republicano, e fez uma breve citação do esporte bretão, tão conhecido por nós como futebol. Segundo Freyre, às vésperas da Copa do Mundo de 1938, o futebol brasileiro teria sucesso durante o evento esportivo, por causa da sua malandrice, elaticidade e plasticidade encontrada entre negros e mulatos, porém nem todos compreenderam os aspectos sociológicos e antropológicos do futebol, como no comentário infeliz de Graciliano Ramos, com uma das suas curtas e secas definições: “Que nesta terra, o futebol não pega”. Ledo engano. O tricolor Nelson Rodrigues e o flamenguista José Lins do Rego colocaram o futebol não só como tema literário, mas como esporte heterogêneo e identidade nacional, segundo o autor deste belo exemplar, o escritor, ensaísta e crítico literário Mauro Rosso [ ROSSO, Mauro. Lima Barreto versus Coelho Neto: um Fla – Flu literário, Ed. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, RJ, págs 240, 2010 ], sobretudo, pelo fato de ter sido definido no período pré – modernista ( 1900 – 1922 ) por Lima Barreto, como essência da burguesia elitista, cultura europeia com uma temática estrangeirista, colocando – o na marginalidade, primeiramente, pelo tom “rebelde” na escrita em um tempo parnasiano, prosaico e um fiel opositor à uma literatura oca e um esporte paradoxal, ou seja, civilizados agindo como bárbaros romanos por uma bola de futebol e criando cizânia entre os cidadãos.
Contrapondo ao pensamento de Lima Barreto, eis que surge Coelho Neto, defensor do esporte e cronista esportivo, cobrindo a ascensão do futebol no eixo Rio – São Paulo, colocando – o no panteão da sociedade burguesa na cultura modernista. Lima Barreto não aceitava, tinha ojeriza do esporte bretão, que ocupava o ceio da nata intelectualizada para uma cultura social estreita e singular. O futebol popularizou – se nos clubs, o primeiro em abrangência, o Fluminense Football Club no Rio de Janeiro e nas fábricas paulistanas entre operários italianos que fundaram o Palestra Itália, atual Palmeiras, em São Paulo, mexendo, independente das questões ideológicas, anarquistas e comunistas, que estavam na estreita relação paixão e ódio, através do futebol.
Coelho Neto colocava o esporte do bola no pé como elemento moderno, físico e atlético de uma forma helenística, endeusando jogadores, como se o Estádio das Laranjeiras fosse o Monte Olimpo, e protegido pela deusa Atena, na concepção prosaica de sua Grécia ad hoc, com o honroso football. Naquele momento, Barreto busca em Nietzsche a essência da alma europeia do Super – Homem e seus absurdos. Ei – las: “Aos primeiros às naturezas plenas ( os “Super – Homens” ), a esses seres privilegiados, artistas do pensamento e da ação, que sabem governar – se, manejar as paixões em proveito próprio ( tomem nota ), desviar as reações, ela ( a tal moral dos Super – Homens ) tudo permite para a sua existência, o seu equilíbrio na vida universal: aventuras, incredulidades, repouso, o próprio excesso, a impiedade, a rudeza”...
Uma linha de pensamento compatível com o filósofo inglês Herbert Spencer, ao definir o futebol como esboço da guerra entre os homens, a dialética. Mesmo assim, dos intelectuais Orígenes Lessa à Fernando Sabino, o futebol tornou – se uma instituição mundial e cultura nacional, algo ad eternum, conquistando inclusive, Graciliano Ramos.

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