O
grandioso escritor do Romantismo russo Fiodor Dostoiévski ( 1821- 1881 ) escreveu textos que podem e devem ser
encarados como obra freudiana [ DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Notas do Subterrâneo. Ed.
Bertrand Brasil. Rio de Janeiro – RJ, págs 144, 2010 ], com o compromisso
socrático de conhecer ele mesmo, suas dualidades, uma náusea humana, dores
físicas de um homem em um processo entre a compreensão e a incompreensão, o
entendimento de uma forma jocosa, levemente em um subterrâneo visceral, literal
e perfeitamente humano de um escritor que sentia a perda da sua identidade
entre a razão e a loucura, o liberal e o conservador, típicos do século XIX. A
angústia de eliminar muros intransponíveis, ou seja, o estruturalismo comportamental,
pragmático e metódico. O homem que esbofeteia o seu semelhante, claro, no
sentido figurado, com baixeza, repugnância que sentimos como um rato do
submundo.
O
desejo de eliminar a inércia e a falsa utopia em uma Rússia, em uma Europa nada
“civilizada” em tempos de barbarismo, em um tempo de “guerra e paz” tolstoiana,
mas internamente, o homem em conflito com o seu ser. A vida não é uma ciência
exata, existe a inconstância do homem. O sofrimento não é uma subtração
existencialista, mas uma novo processo que influenciou vários escritores,
dentre eles, Franz Kafka nas suas metamorfoses, entre o bem-estar e o sofrimento,
humanizando, lapidando o ser humano, amadurecendo internamente. Uma estranha,
porém pertinente reciprocidade e paradoxo que compunha o cenário frio, sombrio
da Rússia dos Czares, superficial de uma sociedade burguesa, tosca, desumana e
torpe. A hipocrisia era a característica peculiar da classe burguesa, tentando
manter uma atmosfera perfeccionista e criticada por vários escritores
contemporâneos de Dostoiévski, como Gustave Flaubert com a magnífica obra “Madame
Bovary” ou o polêmico crítico do sistema oitocentista Eça de Queiróz, com as
obras “O crime do padre Amaro”, “O primo Basílio” e “Os Maias”, claramente
contrário ao sistema ortodoxo. Assim como Nietzsche, o escritor russo desejava
um mundo humano, demasiadamente humano e que escreveu em notas, um mundo subterrâneo
com uma literatura real, totalmente anti – heróica e que foi além das
fronteiras do seu tempo com o naturalismo e marca fundamental da cultura
literária russa e do século XIX.
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