O
poeta – cronista Carlos Drummond de Andrade publicou em 1957 a obra [ ANDRADE,
Carlos Drummond de. Fala, amendoeira. Ed. Companhia das Letras. São Paulo – SP,
págs 202, 2012 ]. Republicada devido o seu centenário, a obra reúne suas
observações, anseios, com textos
bastante sóbrios, jeito mineiro de ver o mundo, o tempo, como névoas que se
dissipam com rapidez, metáfora lírica da natureza; uma natureza poética,
afável, sentimento discreto, mas rico em particularidades e peculiaridades
desse esplendoroso cronista. Como um sonho modesto, definido por ele mesmo, a
utópica relação rápida, porém estreita da estonteante Greta Garbo numa rápida
visita ao Brasil, visitando Belo Horizonte e rodeada por poucos, dentre eles, o
sortudo Drummond, ora acreditado, ora desacreditado, visto por ele próprio e
definido como um sonho de domingo. Os lugares em que ele percorreu como a nobre
rua São José no Rio de Janeiro, ponto de encontro de bibliófilos, leitores,
intelectuais como Rui Barbosa. Rua do espaço do saber e conhecimento, dos mais
simples poetas aos mais eruditos.
A
livraria José Olympio era o ponto de encontro dos modernistas como Jorge Amado,
Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Hermes Lima e o próprio poeta com prosas
diversas, criando um colorido de vanguarda. Seus costumes em forma de prosa,
observações da vida, como o ponto facultativo. Qual a sua função? Hamlet é
invocado. Ir ao trabalho ou não, eis a questão. O prazer de deliciar- se dos
costumes regionais, invocando Manaus com frutas desconhecidas por nós, até
hoje, apreciada pelo simplório cronista. O encantamento não do Drummond, mas do
homem que dialogou com o poeta sobre “14 dólares”, virando uma crônica jocosa,
característica ímpar nas suas prosas em um Brasil estadunidense. As datas
festivas, os feriados como lembranças históricas e memorialistas, mas
enaltecida para um prazeroso descanso doméstico ou passeios despretensiosos.
Drummond
não escrevia só sobre a vida, mas a morte como citação filosófica, que pensar nos
mortos é o ato de amor mais desinteressado, na lição do filósofo Kierkegaard,
por não esperar recompensa alguma, sem tristeza e com serenidade. A mesmice da
Academia Brasileira de Letras, padronizada e metódica, favoreceu a criação da
Academia Gonçalves, aportuguesando a célebre Academia Francesa Goncourt, devido
as dificuldades de penetração na Casa de Machado de Assis, homenageando um
apaixonado pelas letras, Gonçalves Sênior, reunindo Capistrano de Abreu,
Ataulfo Alves, João Ramalho, entre outros, não dando continuidade, fruto da
endêmica febre amarela, assolando muitos, inclusive Gonçalves Sênior em meados
do século XX. “O diálogo feroz” é uma crônica com um diálogo entre a
mentalidade arcaica e com forte apelo à erudição clássica e conservadora da ABL
e a visão de Drummond de democratizar as letras, a literatura e a própria
instituição acadêmica em 1954. Seu imenso prazer, inenarrável do convívio entre
os seus familiares, principalmente com os netos radicados em Buenos Aires, o
seu encantamento, no qual eu compartilho, com a beleza de Cabo Frio ( RJ ) e
observações antropológicas da cultura humilde e humana dos pescadores de
Arraial do Cabo ( RJ ). Crônicas com tom de despedida, intitulada “O
antropófago” para o seu amigo Oswald de Andrade, citando suas peculiaridades
satíricas e a cultura da liberdade e sua resistência perante a metódica
literatura do parnasianismo com o modernismo antropofágico. Drummond foi um
poeta – cronista, com um legado literário moderno, lirismo filosófico,
valorizando as coisas do tempo, olhando o mundo, como se observa o tempo de uma
amendoeira. A amendoeira, falou.
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