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domingo, 27 de janeiro de 2013

FILÓSOFOS, ESCRITORES E O PENSAMENTO INTELECTUAL NA IDADE MÉDIA.


O historiador medievalista Jacques Le Goff fez em meados do século XX uma interessante pesquisa sobre a atividade intelectual na Idade Média, tendo como ponto de partida o século XII [ LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. Ed. José Olympio, Rio de Janeiro – RJ, págs 252, 2011 ]. Os intelectuais medievais “orgânicos”, seguindo a linha do teórico marxista Antonio Gramsci, nasceu com as cidades e durante a ascensão dos burgueses no Ocidente europeu e com trabalhos em mosteiros e universidades por professores, eruditos e monges, muita das vezes, reescrevendo em forma de tradução, obras como penitência, escritas do grego – árabe para o latim e consolidando no neoplatonismo cristão com estudos dos principais filósofos e escritores da Antiguidade como Aristóteles, Platão, Virgílio, Tales e Pitágoras, dentro de uma retórica cristã.
Todo este movimento pode ser caracterizado como reflexo do Renascimento Carolíngio, nascido no Império Franco de Carlos Magno e se estendendo até Palermo, Sicília, com a chancelaria de Frederico II, com estudos trilíngues de obras e textos antigos. Os tradutores foram os pioneiros na mobilidade intelectual com a língua científica que era o latim. Monta – se uma equipe de espanhóis que tiveram contato com os muçulmanos e conhecedores da língua árabe para a tradução do alcorão para  entender a filosofia e combate – los nas Cruzadas, também no campo cultural e intelectual, e prontamente defendida por Pedro, o Venerável.
O celeiro para os estudos intelectuais era Paris. Para alguns, era a Jerusalém do Ocidente, mas para muitos, era a nova Babilônia, um antro de perdição. Muitos eram criticados, mas nada comparado aos Goliardos, intelectuais boêmios que eram execrados pela sociedade conservadora e estática francesa e que podem ser definidos como intelligentsia urbana. A atividade poética dos Goliardos era de crítica a sociedade com um imoralismo provocador e  levemente erótico: “Mais ávido de volúpia que de salvação eterna/ A alma morta, preocupo – me apenas com a carne// Como é duro domar a natureza!/ E, diante de uma linda moça, permanecer puro de espírito/ Os jovens não podem seguir uma lei tão dura/ E ignorar o seu corpo saudável.”
Dentre os Goliardos, destaco Pedro Abelardo, o primeiro professor e considerado o cavaleiro da dialética, travando intensas batalhas intelectuais com o mestre Guillaume de Champeaux no meio acadêmico parisiense, obtendo prestígio e credibilidade entre seus alunos. Envolveu – se em um tórrido romance com a culta e sua aluna Heloísa, jovem com hábitos refinados e gerando uma criança com um nome nada convencional. Astrolábio! Visto como filósofo, Abelardo buscou a lógica de uma maneira peculiar, refinamento e exercitando a dialética pré – cartesiana. A escolástica aristotélica – tomista era a base dos intelectuais medievais com um propósito de manter a força do Sacro Império Romano – Germânico entre os séculos XIII e XIV. A Europa sente a polarização das universidades, dentre elas, de Oxford, Salamanca, Coimbra, Paris e Veneza, com estudantes empenhados e inclinados no humanismo, ou seja, força  - motriz do Renascimento e numa nova cultura literária. Esta expressiva obra de Le Goff nos faz refletir sobre o estereótipo propagado por séculos, que a Idade Média foi um período cronológico mergulhado em um profundo “obscurantismo”.


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