O que busca?

sábado, 13 de abril de 2013

A DESCENTRALIZAÇÃO DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL

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O ano que passou foi extremamente problemático para a Biblioteca Nacional ( RJ ) devido as infiltrações no interior da biblioteca, ausência de ar condicionado e a incapacidade do escritor Galeno Amorim de manter uma logística razoável e conforto para receber pesquisadores. O que diria Carlos Drummond de Andrade, frequentador assíduo, sobre as condições e a má gestão da Fundação Biblioteca Nacional? O acervo literário e histórico da Biblioteca Nacional corre um sério risco devido a umidade ou falta de manutenção na parte elétrica, além de livros encaixotados nos corredores da biblioteca e computadores desligados, essenciais no avanço da pesquisa.
O substituto de Galeno é o cientista político Renato Lessa e a Ministra da Cultura Marta Suplicy vai concentrar a política cultural em Brasília, transferindo a Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas ( DLLLB ) para a Capital Federal por não ter sede própria no Rio de Janeiro e descentralizando a Fundação Biblioteca Nacional. O Ministério da Cultura tem um interessante e pertinente projeto de criar o “Instituto do Livro”, já citado por Monteiro Lobato e atrelado ao departamento da Fundação Biblioteca Nacional.
Os projetos são tão verossímeis quanto uma obra de Graciliano Ramos ou Machado de Assis com algumas conquistas concretas como a ampliação do programa de internacionalização da literatura brasileira; a criação do Cadastro Nacional de Bibliotecas e tornando os bibliotecários em protagonistas na ampliação de acervos e o apoio a eventos literários e caravanas de autores pelo país, como a nossa I Bienal do livro de Volta Redonda, tendo um incondicional apoio da Fundação Biblioteca Nacional. 

domingo, 17 de março de 2013

UM DIÁLOGO KAFKIANO

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O teórico literário Todorov sempre foi um defensor de uma literatura plural, possibilitando o desenvolvimento das demais ciências com os escritores que fomentam o saber menos mecanicista. Esta observação é possível na obra do escritor austríaco Gustav Janouch [ JANOUCH, Gustav. Conversas com Kafka. Ed. Novo Século. Osasco  - SP, págs 237, 2008 ] sobre as inúmeras conversas com o criador das obras “O Processo” e “Metamorfose”. Os dois escritores conversavam sobre o cotidiano, elementos da cultura humana burguesa, as diferenças sociais, com uma crítica hermética sobre o mundo com polidez, verossimilhança e sempre com uma retórica apolínea.
A imagem que o caro leitor e apaixonado pela literatura kafkiana têm é pela consistência filosófica e os anseios do homem sem um propósito de definir valores e conceitos numa perspectiva temporal ou cronológica. Janouch salienta a leitura mais significativa; a mais expressiva de Kafka que a melhor leitura é do outro, das pessoas, buscando o humanismo para aguçarmos a sensibilidade e o próprio existencialismo heideggeriano. Imagino eu, ideias sendo costuradas entre o filósofo Heráclito e Kafka sobre rupturas, processos e metamorfoses dentro de uma perspectiva metafísica e humana, cheio de solilóquios de um escritor que fica longe da singularidade e do romantismo. Suas observações literárias são menos abstratas e mais sólidas. O exercício da metafísica entre os escritores tinha um importante espaço para uma análise sobre os poetas e intelectuais que moldavam a própria literatura, do poeta Hans Klaus à Schopenhauer. O Aufklarung ou Iluminismo germânico contribuíram para as observações explícitas ou implícitas de ambos os escritores e fundamental para a propagação da língua alemã com uma força humana que só foi vista com a mesma dimensão nos tempos de Goethe com a obra “Fausto”. Esta obra de Gustav é uma acolhida ao pensamento literário e filosófico de Kafka de uma forma moderna e inteligente. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

RELAÇÕES DE FORÇA: FORRAS, ESCRAVAS E MULHERES LIVRES NO PERÍODO DOS OITOCENTOS.

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A maioria dos historiadores e estudiosos da sociedade brasileira do século XIX sabem que este século deixou como em nenhum outro século anterior um expressivo número de documentos oficiais ou não, cartas, obras literárias e artigos em jornais ou periódicos sobre o quotidiano e as relações de força entre senhores, escravas, forras e mulheres livres no período dos oitocentos. A historiadora Maria Odila, discípula do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, nos leva ao quotidiano e cultura urbana e incipiente da sociedade paulistana com esta expressiva obra lida por mim. [ ODILA, Maria. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. Ed. Brasiliense – São Paulo, págs 198, 1984 ]. A vida do sexo feminino no século XIX gerou interesse da historiadora, citando mulheres com descompostura e turbulentas, causando conflitos nas ruas, sobrados e numa condição que favorecia a inércia da aristocracia urbana. Quitandeiras, empregadas, forras e escravas que sentiam os efeitos das relações de força entre a sociedade burguesa e os excluídos, mas, mesmo assim, esta obra fragmenta o conceito ou estereótipo de uma sociedade absolutamente patriarcal.
O matriarcalismo urbano existiu, colocando as mulheres pobres; brancas e negras; forras ou escravas em uma condição de líderes familiares, vendendo quitutes afro – brasileiros pelas ruas de São Paulo ou viúvas que administravam negócios de seus falecidos ou ausentes maridos, mantendo a vitalidade comercial com escravos urbanos, originariamente de Angola, Moçambique e Congo. Sinhás e sinhazinhas tinham raríssimas aparições devido as badernas, criminalidade e hostilidades entre escravos, forros e ladrões em uma cidade que crescia rapidamente. A atividade cultural ou intelectual das mulheres praticamente era nula, com a polarização do analfabetismo e uma educação com um propósito maternal e manter a família nuclear, hierárquico, metódico e voltado para o estereótipo do objeto sexual tanto para as brancas, quanto para as negras alforriadas ou não.
A atividade manufatureira era caseira e ganha – pão das mulheres livres ou não, com a intensificação do plantio de algodão, porém as transformações no país nos anos oitocentos, foram fundamentais para uma adaptação dos elementos sociais com a abolição dos escravos, chegada de imigrantes portugueses e italianos em São Paulo e a urbanização. Um processo “civilizador” corroborado com o positivismo, fundamental na transformação do município em uma cidade em formação, numa cidade verdadeiramente multicultural, cosmopolita e rompendo com o Brasil Colonial.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

É O CAMISA DEZ DA GÁVEA!!

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No ano em que Zico completa 60 anos de idade, nós os flamenguistas apaixonados por futebol, elegemos em definitivo o “Galinho de Quintino” como Rei da Gávea. Todo flamenguista tem uma lembrança de um jogo ou jogada do eterno camisa 10. Após a cirurgia, devido uma entrada violenta de um oponente, o seu joelho nunca mais foi o mesmo, consolidando  um problema crônico ao longo de sua vida. Muitos acreditaram no fim  de sua carreira, porém a sua determinação e vontade de voltar aos gramados foram o suficiente para o seu retorno com genialidade, sagacidade, ginga e classe como pontos essenciais, fundamentais do maior ídolo do Flamengo.
O clássico FLA – FLU de 1986 me impressionou, entrando para a história devido o retorno triunfal de Zico. Um jogo em que o craque fez três gols, usando a heterogeneidade para vencer aquela partida. O Galinho fez gol de cabeça, com bola rolando e com a sua especialidade, o gol de falta, com o goleiro do time adversário em uma letargia, atônico, sentindo na pele a inércia perante uma física inexplicável de uma bola mágica que entrava lá onde a coruja dorme. Lima Barreto que tinha uma verdadeira ojeriza pelo football, devido o seu estrangeirismo no início do século XX, certamente mudaria suas concepções absolutistas e ficaria encantado com a brasilidade e a identidade em uma  tríade entre  Flamengo, Zico e o Maracanã.
Seria enriquecedor o olhar futebolístico e literário de Lima Barreto com o cronista e centenário Nelson Rodrigues, ambos colocando  -o numa literatura prosaica, verídica, poética e nada fictícia para a posteridade. Faltaria para todos os apaixonados pelas letras, adjetivos para definir o Flamengo de 1981.  Leandro, Andrade, Tita, Júnior, Mozer, Nunes e Adílio,  eram vistos como jogadores e craques que usariam a camisa da Gávea com propriedade, mas a 10 sempre a identificação com o Galinho, assim como o 10 do Santos sempre será a identificação de Pelé. Se Rondinelli é o “deus” da raça, Zico é o espírito do Flamengo com garra, determinação e vitórias e parafraseando o compositor Jorge Bem Jor, Zico é o camisa 10 da Gávea!     

domingo, 27 de janeiro de 2013

FILÓSOFOS, ESCRITORES E O PENSAMENTO INTELECTUAL NA IDADE MÉDIA.

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O historiador medievalista Jacques Le Goff fez em meados do século XX uma interessante pesquisa sobre a atividade intelectual na Idade Média, tendo como ponto de partida o século XII [ LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. Ed. José Olympio, Rio de Janeiro – RJ, págs 252, 2011 ]. Os intelectuais medievais “orgânicos”, seguindo a linha do teórico marxista Antonio Gramsci, nasceu com as cidades e durante a ascensão dos burgueses no Ocidente europeu e com trabalhos em mosteiros e universidades por professores, eruditos e monges, muita das vezes, reescrevendo em forma de tradução, obras como penitência, escritas do grego – árabe para o latim e consolidando no neoplatonismo cristão com estudos dos principais filósofos e escritores da Antiguidade como Aristóteles, Platão, Virgílio, Tales e Pitágoras, dentro de uma retórica cristã.
Todo este movimento pode ser caracterizado como reflexo do Renascimento Carolíngio, nascido no Império Franco de Carlos Magno e se estendendo até Palermo, Sicília, com a chancelaria de Frederico II, com estudos trilíngues de obras e textos antigos. Os tradutores foram os pioneiros na mobilidade intelectual com a língua científica que era o latim. Monta – se uma equipe de espanhóis que tiveram contato com os muçulmanos e conhecedores da língua árabe para a tradução do alcorão para  entender a filosofia e combate – los nas Cruzadas, também no campo cultural e intelectual, e prontamente defendida por Pedro, o Venerável.
O celeiro para os estudos intelectuais era Paris. Para alguns, era a Jerusalém do Ocidente, mas para muitos, era a nova Babilônia, um antro de perdição. Muitos eram criticados, mas nada comparado aos Goliardos, intelectuais boêmios que eram execrados pela sociedade conservadora e estática francesa e que podem ser definidos como intelligentsia urbana. A atividade poética dos Goliardos era de crítica a sociedade com um imoralismo provocador e  levemente erótico: “Mais ávido de volúpia que de salvação eterna/ A alma morta, preocupo – me apenas com a carne// Como é duro domar a natureza!/ E, diante de uma linda moça, permanecer puro de espírito/ Os jovens não podem seguir uma lei tão dura/ E ignorar o seu corpo saudável.”
Dentre os Goliardos, destaco Pedro Abelardo, o primeiro professor e considerado o cavaleiro da dialética, travando intensas batalhas intelectuais com o mestre Guillaume de Champeaux no meio acadêmico parisiense, obtendo prestígio e credibilidade entre seus alunos. Envolveu – se em um tórrido romance com a culta e sua aluna Heloísa, jovem com hábitos refinados e gerando uma criança com um nome nada convencional. Astrolábio! Visto como filósofo, Abelardo buscou a lógica de uma maneira peculiar, refinamento e exercitando a dialética pré – cartesiana. A escolástica aristotélica – tomista era a base dos intelectuais medievais com um propósito de manter a força do Sacro Império Romano – Germânico entre os séculos XIII e XIV. A Europa sente a polarização das universidades, dentre elas, de Oxford, Salamanca, Coimbra, Paris e Veneza, com estudantes empenhados e inclinados no humanismo, ou seja, força  - motriz do Renascimento e numa nova cultura literária. Esta expressiva obra de Le Goff nos faz refletir sobre o estereótipo propagado por séculos, que a Idade Média foi um período cronológico mergulhado em um profundo “obscurantismo”.


terça-feira, 20 de novembro de 2012

ESCRITORES, CIRCUITO LITERÁRIO E O MONOPÓLIO DAS EDITORAS!

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O ano de 2012 foi promissor na produção literária nacional e internacional, com vários eventos voltados para a Literatura. No Brasil tivemos a FLIP ( Feira Literária de Paraty ), FLUPP ( Feira Literária da Unidade Pacificadora ), FLOP ( Feira Literária de Ouro Preto ), a FLIPORTO ( Feira Literária de Porto de Galinhas e a Feira Literária Internacional de São Paulo, todos com sucesso de público, agraciando editoras brasileiras com boas vendagens. Mesmo assim, ocorreram algumas críticas do mercado editorial em relação aos novos escritores, devido a falta de qualidade textual ou a dificuldade do escritor de entrar no circuito literário.
Motivos é que não faltam, dentre eles, a falta de um QI ( Quem Indique ) ou por produzir uma obra que não se encaixa com a editora. As grandes editoras do país como a Companhia das Letras, Martins Fontes ou Jorge Zahar encontram –se diante de pilhas e mais pilhas de envelopes ou caixas de e-mails lotados de obras em pdf, obras em e-books ou mesmo em blogs, assim como eu e outros blogueiros, que usam o espaço para a publicação de suas resenhas, impressões literárias, poesias ou crônicas. São ferramentas indispensáveis para um escritor independente e contemporâneo, com o único propósito de publicarem suas obras, além da produção on demand, com tiragens pequenas e independentes.
O mercantilismo literário, atrelado ao pragmatismo míope das editoras impede a democratização literária dos autores nacionais. A ideia errônea  que autores nacionais não vendem cai por terra com a Feira Literária de Frankfurt, com intensa procura por escritores consagrados como Machado de Assis ou Jorge Amado. Sim, são escritores consagrados, com uma produção literária consolidada, mas temos também escritores regionais e nacionais em evidência no Brasil, que ganham espaço em editoras em ascensão ou intermediárias, participando de debates ou fóruns. Fora isso, vejo um ano ainda mais expressivo na produção literária no Brasil, mas dosando com autores nacionais e estrangeiros. Fecho o meu blog em 2012 com muita alegria por ter resenhado deliciosas obras de Dostoiévski à Drummond. Nunca resenhei com tanto gosto obras de ficção, obras filosóficas, troquei ideias literárias com amigos, professores e alunos e espero que os meus leitores tenham gostado. No ano de 2013, eu voltarei com gás, vontade e mais obras literárias. Boas Festas para todos!!  

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A PAZ ARMADA

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Depois de um bom tempo eu decidi escrever sobre a velha crise entre a Palestina e Israel, levando em consideração os novos atores da crise e os possíveis resultados. Com este tema, não poderia deixar de citar o intelectual palestino Edward Said. O falecido escritor Said foi professor da Universidade de Nova York, com uma metodologia educacional e uma filosofia transparente para uma melhor compreensão sobre a questão Palestina e o Islã. Ele dizia: “Para a direita, o Islã representa o barbarismo. Para a esquerda, teocracia medieval. Para o centro, um tipo de exotismo de mau gosto. Há no entanto, uma opinião comum a todos, unânime, que mesmo, o pouco que se sabe sobre o mundo islâmico, não há muito que possa ser aprovado lá”. O escritor desejava o reconhecimento imediato da criação do Estado da Palestina, porém ele tinha certeza que este projeto não seria realizado, devido o enfraquecimento da ONU , a instabilidade entre grupos étnicos no Oriente Médio e o eterno confronto entre sionistas e muçulmanos com autodeterminações religiosa e geográfica. Como renomado escritor engajado, Edward Said sofreu perseguição do governo norte – americano e por grupos ortodoxos judaicos. Se ele foi perseguido, imagina um cidadão comum da Palestina?  Os acordos anteriores, como os que foram realizados na gestão presidencial de Bill Clinton, entre o trabalhista moderado Ehud Barak e Yasser Arafat para a devolução de terras para os palestinos em Gaza e Cisjordânia, em 1999 não surtiram o efeito esperado.
Os assentamentos fizeram parte de um acordo diplomático frágil e sem futuro, comprovado com as Intifadas ou “guerra das pedras” entre palestinos simpatizantes do grupo extremista Hamas. A geografia complexa da Palestina dificulta ainda mais o entendimento entre o Hamas e o Fatah, da Cisjordânia, da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas. O Hamas tem o apoio incondicional do Irã e do extremista libanês Hezbollah que é acusado de envolver – se em um conflito étnico no próprio Líbano por defender a Síria, em um confronto entre cristãos e muçulmanos pró – Bashar Al – Assad e controlar prefeituras no Norte do Líbano, fazendo fronteira com Israel.
Benjamim Netanyahu tem seguido a mesma linha dura de Ariel Sharon, característica peculiar do Partido Likkud, varrendo radicais em Gaza, mas levando também civis e impedindo assim um avanço de Abbas na ONU  e enfraquecendo a Palestina como um estado em observação, e na minha humilde opinião, um possível apoio da Liga Árabe e do principal apoio histórico do Ocidente, a França do socialista François Hollande, poderá gerar intensas batalhas das pedras na Palestina  . O objetivo de Israel é enfraquecer a possibilidade da Palestina de criar um Estado, desviando o foco da retórica de Abbas na ONU, com uma política reducionista, reacionária, comprometendo ainda mais a diplomacia na região, fruto dos últimos acontecimentos entre Síria e Turquia, Estado membro da OTAN e de importância geoestratégica por ser um país euro – asiático e seu espaço aéreo invadido, gerando um mal – estar na região e o Irã com o regime dos Aiatolás, desde a Revolução Iraniana ( 1979 ). A geopolítica da paz está longe de ser resolvida e que a paz armada nunca foi o caminho. A História mostra isso na fragilidade entre as duas Grandes Guerras e com os sentimentos que vieram a tona, fruto do ódio e ressentimento.. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O PENSAMENTO SARTRIANO: MATERIALISMO METAFÍSICO, A DIALÉTICA E A RELATIVIZAÇÃO DAS IDEIAS.

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O escritor e filósofo István Mészaros publicou uma obra [ MÉSZAROS, István. A obra de Sartre: busca da liberdade e desafio da história - São Paulo: Boitempo, 330 págs, 2012 ] sobre as atividades literária e filosófica de Jean  - Paul Sartre ( Foto ), com o propósito de colocar o engajamento literário e intelectual em evidência. A práxis, a dialética de Sartre com os seus contemporâneos, sua visão política, visto por militares como persona non grata devido as suas críticas ao militarismo francês em antigas colônias. Na literatura, sua crença é voltada na literatura total, com liberdade incondicional da escrita, vista por ele mesmo como “beleza total”. Sartre era um crítico da literatura estéril, universalização não metafísica, mas na praticidade. Escreveu obras fundamentais para o exercício da literatura livre como “Crítica da razão dialética” e o “Ser e o nada”, com uma fusão entre subjetividade e objetividade perante o sistema e inclinado no pensamento de Kant: “Você deve, logo pode”.
Entre 1940 – 1941, Sartre cai nas mãos dos nazistas, e na prisão ele fez um estudo sobre as obras dos filósofos Heidegger e Kierkegaard, fomentando uma literatura menos abstrata, e cheio de ideias que consolidaram o “ser”, o elemento ser existencial e total perante o nada e o vazio. Sua literatura, com vastos textos, eram definidas por ele como síntese, contrapondo com o escritor Proust, que curvava – se para a análise. Sua produção literária e filosófica ganhou respeito por muitos na França e visibilidade, mas Simone de Beauvoir escreve: “Se fosse necessário, ele teria se disposto a manter – se anônimo: o importante era que suas ideias prevalecessem”. Ideias que acabou gerando discordância e distanciamento de Albert Camus e Merleau – Ponty, devido as suas sínteses subjetivas. Sartre explora o teatro para o entendimento através da dramaticidade e da filosofia, não de uma forma dissertativa, mas como característica de Hegel, totalmente representativa.
Os seus estudos tinham como leitmotiv a filosofia da fenomenologia – existencialista alemã para o exercício da dialética entre a literatura de Flaubert e Sartre. Segundo Sartre: “Flaubert representa para mim exatamente o oposto de minha concepção de literatura: desengajamento total e uma determinada noção da forma que não é exatamente a que admiro [...] Ele começou a fascinar – me exatamente porque o via como o contrário de mim mesmo”. O pensamento sartriano é vanguardista para a compreensão intelectual total, pluralizar as ideias, algo pertinente e atemporal. Sua visão política era vista com entusiasmo em tempos de Guerra Fria com os movimentos revolucionários em Cuba, Argélia e Vietnã, países do “Terceiro Mundo” em evidência no contexto da política internacional e fundamentais para o desenvolvimento da sua literatura – filosófica.
Na década de 60, Sartre encontra – se com o historiador e amigo Raymond Aron para o entendimento do materialismo metafísico, ou seja, a compreensão e o pensar sobre as coisas materiais numa vertente filosófica e o estudo do precursor do materialismo filosófico, o alemão Husserl. Seu engajamento foi essencial para a compreensão histórica e a-histórica do homem numa perspectiva humana e dialeticamente possível com o Partido Comunista Francês e jocosamente perante os escritores Camus e Merleau – Ponty, distanciando – se de ambos. Sua postura de relativizar as ideias favoreceu o próprio exercício da dialética, com uma perspicácia, perante o pensamento a – histórico de Claude Lévi – Strauss e o avanço da História, no mínimo, como dúbia, retrograda e sem sentido, claro, um crítico proeminente da esquerda, incomodou um intelectual de esquerda como Sartre, que buscava, segundo o filósofo Mészaros, uma visão “caleidoscópica” e passivo de inter – relacionamento das dicotomias como “ser/nada”, “possiblidade/necessidade”, “Em – si/ Para – si” para o exercício dialético, não possível de ser compreendida por um antropólogo como Lévi – Strauss por ter sido conservador, no que se refere ao conhecimento histórico e o pensamento filosófico. Sartre tinha uma bandeira metafísica e vanguardista, característica peculiar dos que estão à frente do seu tempo. A incondicional busca da liberdade, que nasce através do pensamento livre. Um exercício sui generis daquele que foi hors – concours no seu tempo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O LEGADO DE UM HISTORIADOR E O FIM DE UMA ERA

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Como historiador e professor de História, eu não poderia deixar de relembrar o falecido historiador marxista Eric Hobsbawn ( FOTO ) e algumas de suas obras que marcaram a minha vida de leitor, professor e escritor. A sua morte representa o fim de uma era na historiografia marxista global. O historiador era uma verdadeira enciclopédia e um profundo estudioso da História nos séculos XIX e XX, influenciando vários pensadores renomados e todos os apaixonados pela literatura científica e histórica no nosso tempo presente. A obra “A Era dos Extremos”, foi sem dúvida, a sua maior marca e sua mais completa obra. Ele mesmo, que viveu o período citado na obra em 1917, ano em que nasceu e início da Revolução Russa e de uma nova "era" até a derrocada da União Soviética em 1991, como um tempo interessante, tema, aliás, da sua autobiografia intitulada e lida por mim, “Tempos Interessantes” e regada de conhecimento empírico e teórico, desde a sua formação acadêmica na renomada instituição britânica “London School of Economics”, formando – se em história econômica, com uma visão ainda ortodoxa e membro do Partido Comunista Inglês.
Com uma didática exemplar, o historiador dividiu a nossa história contemporânea em “Eras”, um estruturalismo peculiar e fundamental para aqueles que viam a ascensão de Estados de uma forma imperial e o neocolonialismo darwinista com a obra “A Era dos Impérios”, colocando de uma forma clássica o materialismo histórico que encantaria e seria lido com gosto pelo próprio Karl Marx e Antonio Gramsci. “A Era do Capital” tem uma linha de um típico historiador estudioso do sistema econômico e marxista, fomentando a problemática social e a metafísica das quinquilharias da classe burguesa nos anos dos oitocentos. No início do século XXI, mesmo com a idade avançada, Hobsbawn continuava com as suas atividades intelectuais e escrevia sobre tudo, principalmente sobre a Globalização pós – Guerra Fria, dividindo este importante tema com o outro grandioso intelectual Noam Chonsky. Dentre tantas obras que eu li e algumas que já citei aqui, não poderiam ficar de fora as obras “Sobre História” e “O Bicentenário da Revolução Francesa”. A primeira, ele faz uma verdadeira apologia da atividade intelectual histórica, causas e consequências com seminários e palestras que ele realizou nas principais universidades do planeta e a segunda ele faz uma bela referência, com semelhanças e diferenças da Revolução Francesa ( 1789 ) com a Revolução Russa ( 1917 ). Este historiador, nascido em Alexandria, Egito, criado em Viena, Áustria e educado em Londres, Inglaterra, não poderia deixar de ter uma visão global, formação cosmopolita e voltada para o seu tempo.  Na minha humilde opinião, os principais intelectuais do nosso tempo são Jacques Le Goff, Umberto Eco, Carlo Ginzburg e Eric Hobsbawn. Com a morte de Hobsbawn, tivemos o fim de uma era, mas a sua produção histórica é um verdadeiro testamento para os atuais e futuros estudiosos do complexo sistema humano e suas variantes. O seu legado é verdadeiramente eterno e será por muito tempo contemporânea.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A AMENDOEIRA, FALOU...

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O poeta – cronista Carlos Drummond de Andrade publicou em 1957 a obra [ ANDRADE, Carlos Drummond de. Fala, amendoeira. Ed. Companhia das Letras. São Paulo – SP, págs 202, 2012 ]. Republicada devido o seu centenário, a obra reúne suas observações, anseios,  com textos bastante sóbrios, jeito mineiro de ver o mundo, o tempo, como névoas que se dissipam com rapidez, metáfora lírica da natureza; uma natureza poética, afável, sentimento discreto, mas rico em particularidades e peculiaridades desse esplendoroso cronista. Como um sonho modesto, definido por ele mesmo, a utópica relação rápida, porém estreita da estonteante Greta Garbo numa rápida visita ao Brasil, visitando Belo Horizonte e rodeada por poucos, dentre eles, o sortudo Drummond, ora acreditado, ora desacreditado, visto por ele próprio e definido como um sonho de domingo. Os lugares em que ele percorreu como a nobre rua São José no Rio de Janeiro, ponto de encontro de bibliófilos, leitores, intelectuais como Rui Barbosa. Rua do espaço do saber e conhecimento, dos mais simples poetas aos mais eruditos.
A livraria José Olympio era o ponto de encontro dos modernistas como Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Hermes Lima e o próprio poeta com prosas diversas, criando um colorido de vanguarda. Seus costumes em forma de prosa, observações da vida, como o ponto facultativo. Qual a sua função? Hamlet é invocado. Ir ao trabalho ou não, eis a questão. O prazer de deliciar- se dos costumes regionais, invocando Manaus com frutas desconhecidas por nós, até hoje, apreciada pelo simplório cronista. O encantamento não do Drummond, mas do homem que dialogou com o poeta sobre “14 dólares”, virando uma crônica jocosa, característica ímpar nas suas prosas em um Brasil estadunidense. As datas festivas, os feriados como lembranças históricas e memorialistas, mas enaltecida para um prazeroso descanso doméstico ou passeios despretensiosos.
Drummond não escrevia só sobre a vida, mas a morte como citação filosófica, que pensar nos mortos é o ato de amor mais desinteressado, na lição do filósofo Kierkegaard, por não esperar recompensa alguma, sem tristeza e com serenidade. A mesmice da Academia Brasileira de Letras, padronizada e metódica, favoreceu a criação da Academia Gonçalves, aportuguesando a célebre Academia Francesa Goncourt, devido as dificuldades de penetração na Casa de Machado de Assis, homenageando um apaixonado pelas letras, Gonçalves Sênior, reunindo Capistrano de Abreu, Ataulfo Alves, João Ramalho, entre outros, não dando continuidade, fruto da endêmica febre amarela, assolando muitos, inclusive Gonçalves Sênior em meados do século XX. “O diálogo feroz” é uma crônica com um diálogo entre a mentalidade arcaica e com forte apelo à erudição clássica e conservadora da ABL e a visão de Drummond de democratizar as letras, a literatura e a própria instituição acadêmica em 1954. Seu imenso prazer, inenarrável do convívio entre os seus familiares, principalmente com os netos radicados em Buenos Aires, o seu encantamento, no qual eu compartilho, com a beleza de Cabo Frio ( RJ ) e observações antropológicas da cultura humilde e humana dos pescadores de Arraial do Cabo ( RJ ). Crônicas com tom de despedida, intitulada “O antropófago” para o seu amigo Oswald de Andrade, citando suas peculiaridades satíricas e a cultura da liberdade e sua resistência perante a metódica literatura do parnasianismo com o modernismo antropofágico. Drummond foi um poeta – cronista, com um legado literário moderno, lirismo filosófico, valorizando as coisas do tempo, olhando o mundo, como se observa o tempo de uma amendoeira. A amendoeira, falou.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O SOCRATISMO RUSSO E O SUBMUNDO DA ALMA HUMANA

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O grandioso escritor do Romantismo russo Fiodor Dostoiévski ( 1821-  1881 ) escreveu textos que podem e devem ser encarados como obra freudiana [ DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Notas do Subterrâneo. Ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro – RJ, págs 144, 2010 ], com o compromisso socrático de conhecer ele mesmo, suas dualidades, uma náusea humana, dores físicas de um homem em um processo entre a compreensão e a incompreensão, o entendimento de uma forma jocosa, levemente em um subterrâneo visceral, literal e perfeitamente humano de um escritor que sentia a perda da sua identidade entre a razão e a loucura, o liberal e o conservador, típicos do século XIX. A angústia de eliminar muros intransponíveis, ou seja, o estruturalismo comportamental, pragmático e metódico. O homem que esbofeteia o seu semelhante, claro, no sentido figurado, com baixeza, repugnância que sentimos como um rato do submundo.
O desejo de eliminar a inércia e a falsa utopia em uma Rússia, em uma Europa nada “civilizada” em tempos de barbarismo, em um tempo de “guerra e paz” tolstoiana, mas internamente, o homem em conflito com o seu ser. A vida não é uma ciência exata, existe a inconstância do homem. O sofrimento não é uma subtração existencialista, mas uma novo processo que influenciou vários escritores, dentre eles, Franz Kafka nas suas metamorfoses, entre o bem-estar e o sofrimento, humanizando, lapidando o ser humano, amadurecendo internamente. Uma estranha, porém pertinente reciprocidade e paradoxo que compunha o cenário frio, sombrio da Rússia dos Czares, superficial de uma sociedade burguesa, tosca, desumana e torpe. A hipocrisia era a característica peculiar da classe burguesa, tentando manter uma atmosfera perfeccionista e criticada por vários escritores contemporâneos de Dostoiévski, como Gustave Flaubert com a magnífica obra “Madame Bovary” ou o polêmico crítico do sistema oitocentista Eça de Queiróz, com as obras “O crime do padre Amaro”, “O primo Basílio” e “Os Maias”, claramente contrário ao sistema ortodoxo. Assim como Nietzsche, o escritor russo desejava um mundo humano, demasiadamente humano e que escreveu em notas, um mundo subterrâneo com uma literatura real, totalmente anti – heróica e que foi além das fronteiras do seu tempo com o naturalismo e marca fundamental da cultura literária russa e do século XIX.   

terça-feira, 11 de setembro de 2012

MENTES ABERTAS, ESCRITORES E LIVRARIA: O MODERNISMO FRANCÊS NO SÉCULO XX

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O escritor francês Jean – Paul Caracalla escreveu uma obra que enaltece o Modernismo Francês, entre 1920 – 1940 [ CARACALLA, Jean - Paul. Os Exilados de Montparnasse ( 1920 - 1940 ) Ed. Record, Rio de Janeiro - RJ, págs 287, 2009 ] a larga e intensa atividade intelectual e cultural de Paris, colocando a livraria anglo – americana Shakespeare and Company como ponto de encontro cultural dos principais expoentes da intelligentsia, costurando um novo pensar sobre o mundo, a vida cosmopolita retomada, mesmo em um período de turbulência econômica e política pós – I Guerra Mundial ( 1914 – 1918 ). Escritores norte – americanos e britânicos fugiam da atmosfera puritana, calcada nos estereótipos e numa vida ortodoxa. James Joyce ( FOTO ) pôde alavancar no ceio parisiense moderno, sua célebre obra “Ulisses”, assim como Ernest Hemingway, o poeta Ezra Pound, Pablo Picasso com suas pinturas e o consciente escritor Paul Valéry.
Ernest Hemingway chega a Paris em 1921 e logo busca a principal fonte de cultura literária parisiense, a livraria Shakespeare and Company, fuçando e pegando como empréstimo obras dos escritores, já com a credibilidade consolidada como Turgueniev, Tolstoi, Gustave Flaubert ou Guy de Maupassant e escrevendo poemas, crônicas ou contos para os jornais anglo – saxônicos. Vários críticos literários analisavam a obra “O Grande Gatsby” de Scott Fitzgerald entre xícaras de chá e cafés em livrarias de Montparnasse, porém , com o tempo, Fitzgerald entrou em um profundo declínio humano e intelectual, fruto do alcoolismo, encurtando a sua atividade literária e promissora. Gertrude Stein, escritora de respeito, teve uma imensa dificuldade de encontrar editoras e até mesmo tipógrafos para a publicação de suas obras, algo notório até nas obras de James Joyce, D.H. Lawrence e Henry Miller, sendo vendidas na clandestinidade nos anos sombrios em Nova York. A proprietária da livraria Shakespeare and Company, Sylvia, opta em colaborar com o escritor James Joyce na publicação da obra “Ulisses”, devido a dificuldade de publicar o livro nos países anglo – saxônicos, devido o puritanismo e o sexismo que tomavam conta das primeiras décadas do século XX. Este livro, não exigirá de nós, um passeio à meia – noite em Paris para encontrarmos esses célebres e notáveis escritores. Basta ler e sentirmos com a leitura o ápice do modernismo parisiense. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A CONSTRUÇÃO DO SABER DE APOLO À NIETZSCHE: DA PLENITUDE GEOGRÁFICA AO LIRISMO HOMÉRICO

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 Uma das civilizações mais expressivas do mundo antigo foi estudada pelo historiador  Arnold Toynbee, obtendo uma projeção, fruto da formação do helenismo que aconteceu diante da derrocada da civilização minóica – micênica, edificada às margens do Egeu, berço cultural e intelectual desde o século XX a.C e consolidada com a civilização otomana no século XV da era cristã, pluralizando um mapa linguístico, indo do alfabeto cirílico que fomentou a produção literária do poeta e escritor Homero com aculturação natural, ou não, de povos da Ásia Menor, passando pelo Dardanelos e levando sua língua dórica e costumes, que incorporaram à cultura grega, implementando as pólis, ou, cidades – Estados com autonomia política. “A cidade – Estado surgiu para tornar possível a vida”, como frisou o filósofo Aristóteles, mas tudo tem o seu preço, pago bem alto pelos espartanos menos afortunados, seguindo a hierarquia imposta, se preciso, a força como esclareceu o filósofo Heráclito, no século Va.C., “A guerra – segundo sua opinião – é a mãe de todas as coisas”, usando no sentido literal e metafórico, o que a Grécia construiu por séculos, do Magma Grécia, passando pelo Helesponto ao Bósforo.
Temos a plenitude geográfica e intelectual, como heranças virtuosas dos helênicos de uma maneira impactante, extraordinária e única; com a idade lírica registrada pelo historiador francês Claude Mossé, com as redações de poemas homéricos na escrita fenícia ou através da história oral, sem qualquer segurança de informações, dificuldade encontrada por historiadores como Heródoto ou Tucídites que viveram no século Va.C, quanto para Plutarco ou Cassiodoro para a compreensão das mentalidades, os aspectos sociais e culturais da Antiguidade, tendo a possibilidade de atenuar as interrogações presentes entre os estudiosos com a arqueologia. A arqueologia do saber, por exemplo, foi hermeticamente construída com os filósofos. Platão foi um detentor do exercício da metafísica, bem citado pelo filósofo contemporâneo e alemão Friedrich Nietzsche, que a filosofia – literatura era apolínea, o deus do Sol  Apolo ( FOTO )  na mitologia heleno – latina era visto como força racional, respondendo e buscando as respostas de uma forma inteligível e socrática, exercitando a dialética entre o pensamento de contrastes entre Sócrates e Zenão, com a teoria das ideias e o empirismo. Para o filósofo Zenão. As coisas seriam ao mesmo tempo semelhantes e dessemelhantes, ou seja, totalmente sem fundamento. Logo, Sócrates compreende as ideias múltiplas de Zenão, mas com uma abordagem mais sensível, concreta ou abstrata, desde que fosse compreendida. O objetivo máximo dos filósofos da antiguidade era a busca da razão nos discursos, no prazer ou nos próprios fenômenos elementares físicos, com uma narrativa voltada para alguns cenários, as Grandes Panatenéias, que eram festas em Atenas com honras para a deusa Athena, com os atores principais do universo filosófico grego como Parmênides, Zenão, Platão e Sócrates. A grande contribuição filosófica de Parmênides foi a busca da “verdade persuasiva” em poemas, explorando o seu lado empírico, reflexões o “ser” como elemento humano flexível e não a unidade absoluta e defendida pelo filósofo Hegel do “ser” absoluto. Zenão, figura central dos paradoxos, das dualidades inércia/ movimento, espírito/carne, céu/terra, que tomaram o universo do neoplatonismo medieval com hipóteses, que corroboram até os tempos atuais, saindo dessa metáfora cavernosa de Platão para o encontro direto com o deus Apolo do filósofo Nietzsche. 

BIBLIOGRAFIA:

1 - Platão- Parmênides, Ed: Loyola, São Paulo, págs 143, 2003;

2 - TOYNBEE, Arnold J. Helenismo: história de uma civilização. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, págs 232, 1975;

3 - MOSSÉ, Claude. A Grécia Arcaica de Homero à Ésquilo. Ed: 70, Lisboa, Portugal, págs 228, 1984.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CULTURA PAGÃ E CRISTÃ ENTRE OS SÉCULOS XIV E XVIII: SABÁS, FEITIÇARIA E LEPROSOS EM UM MUNDO NEFASTO.

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O historiador cultural Carlo Ginzburg fez uma curiosa e interessante pesquisa sobre a cultura de oferenda na agricultura com o intuito de buscar a fertilização do solo na Europa do século XV. Logo, esta interessante manifestação cultural foi colocada em xeque pelos inquisidores, que denominavam como prática de bruxaria, chamados de andarilhos do bem ou benadanti, modificado pelos inquisidores como comportamento demoníaco, com uma irracionalidade da perseguição, colocando a narrativa das bruxas em um estado delirante. A feiticeira é antiga, anterior ao período pré – cristão, como o culto da fertilidade, estudadas por antropólogos e folcloristas, aculturadas ou processo de aculturação, bem definida pelo renomado Franz Boas nos oitocentos, uma fusão entre a natureza e divindades feministas, chamada ora Diana, ora Herodíades ou Perchta ( FOTO ), ocorrida em regiões com forte tradição pagã como as eslavas e germânicas, cultuando a fertilidade dos campos e os “benadantes” vistos pela Igreja Católica como bruxos.
Muitos, em estado transcedental, em sonos profundos, de letargias, tornando – os insensíveis, em um nirvana para combater os feiticeiros, processados pelos Santos Ofícios, como ocorreu em Veneza, com insinuações maldosas do inquisidor com este questionamento: “quando saías em forma de fumaça, como dizes, besuntavas – te antes com algum unguento ou óleo ou dizias algumas palavras [...] ?. A resposta, com uma certa aspereza “Não! Juro pelos santos, por Deus e pelos Evangelhos que não untava e nem dizia palavra alguma [...]”. Acreditavam nas metamorfoses, como este caso relatado da mulher que virou fumaça ou o caso de uma camponesa acusada de bruxaria ao relatar ter conhecido uma bruxa que ao morrer, viu um rato sair da sua boca, acreditando ser o espírito dela em 1589. Muitas relatavam voos noturnos para lugares distantes, as virtudes mágicas dos unguentos diabólicos, vista pela cristandade menos ortodoxa como fantasia de pessoas vulgares, rudes, camponesas ou idiotas em sabás diabólicos.
Os benadanti, segundo o estudo do historiador italiano, refuta que ficavam armados com ramos de erva – doce para a batalha contra as bruxas e feiticeiras, metafisicamente saindo de seus corpos para proteger a fertilidade agrícola em tempos escassos e evitar a fome, intempéries e definidos pela Igreja como punição pelos pecados cometidos. A cristianização com ritos agrários domina o cenário medieval e moderno, dentre eles, o  folclore do lobisomem como elemento que protege a terra e os seus frutos, seguindo até o inferno para recuperar os alimentos que foram furtados pelo demônio; uma crença que ganhou notoriedade na Lituânia dos séculos XVI e XVII, traçando um paralelo com os benadanti. Os leprosos eram também dizimados ou viviam em uma condição outsider, expressão bem empregada pelo sociólogo alemão Norbert Elias, com uma reclusão perpétua, rigidez na separação de homens e mulheres, prontamente autorizada por Filipe V, o Longo, Rei da França em 1321. O filósofo e historiador Michel Foucault cita em sua excelente obra lida também por mim “História da Loucura”, que os leprosos eram colocados em leprosários em um total estado de abandono, com uma “salvação” através da exclusão. Na pesquisa de Ginzburg, os leprosos tentaram envenenar as pessoas sãs nas fontes, poços e águas, encarcerando e queimando os réus confessos. Cronistas da época, dentre eles, Guillaume de Nangis, cita a aliança entre leprosos e judeus para a eliminação de cristãos, com conspirações orquestradas com capital e a ajuda do diabo.
Muitos, perante a Santa Sé, foram mandados para a fogueira e registrada pelo inquisidor Bernard Gui. A ojeriza da cristandade perante os judeus ainda era maior por praticarem empréstimos usurários, prostituíam e estupravam as mulheres dos cristãos mais humildes, que não tinham condições de pagar penhores. Eram considerados nefastos perante os cristãos, junto dos leprosos, tornando – se no século XIV em segregação e reclusão, alimentando os estereótipos do sabá, a reverência ao demônio, a profanação da cruz, atrelados aos feiticeiros, bruxas, além da marginalização de judeus e leprosos, levou a Europa em um holocausto silencioso, somente registrado e conhecido em incunábulos como o “Formicarius” ou o “Tractatus de Strigibis”, publicados por escritores no século XIV, estudada por este excelente historiador italiano e devidamente guardado na Biblioteca do Vaticano.  

BIBLIOGRAFIA:

1 - GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. Companhia das Letras, São Paulo, págs 255, 2001;

2 - GINZBURG, Carlo. História Noturna: decifrando o sabá. Companhia das Letras, São Paulo, págs 406, 2001. 

sábado, 4 de agosto de 2012

A HISTÓRIA E OS PARADIGMAS RIVAIS: A NOVA HISTÓRIA E A HISTORIOGRAFIA MARXISTA.

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Os historiadores Ciro Flamarion Cardoso, Héctor Pérez Brignoli e Jacques Le Goff produziram instigantes obras sobre os métodos evolutivos do estudo da História e da formação da nova história. Os historiadores percorreram a evolução da ciência histórica, dos fatos singulares e da estrutura histórica, saindo entre os séculos XIX e XX da história erudita e intelectual para a história social, pautada no estruturalismo antropológico e social, rompendo com a história positivista, nada imparcial na definição de François Furet: “...como o acontecimento –irrupção súdita do único e do novo na cadeia do tempo – não pode ser comparado com nenhum antecedente, o único modo de integrá – lo à história consiste em atribuir – lhe um sentido teleológico: se ele não tem um passado terá um futuro. E como a História se desenvolveu, desde o século XIX, como um modo de interiorização e conceitualização do sentimento do progresso, o “acontecimento” indica, quase sempre, a etapa de um advento político ou filosófico: república, liberdade, democracia, razão”.
Os historiadores dos Annales Lucien Febvre e Marc Bloch transformaram a revista como espaço de interação entre historiadores e cientistas sociais, com estudos demográficos, sociais e econômicos, antes mesmo do desenvolvimento antropológico de Claude – Lévi Strauss, com o marxismo usando a estrutura social como objeto de estudo e parâmetro para o entendimento da antropologia – história, sinconia – diacronia e estrutura – acontecimento. Segundo os historiadores e autores, a história encontra – se em três expressões: “história serial”, “história quantitativa” e a “new economic history”. A história serial é devidamente exercida por historiadores preocupados em não cometer anacronismos, as diferenças das sociedades em épocas distintas, respeitando a heterogeneidade, os aspectos culturais e econômicos desde o século XIX.
A história quantitativa surgiu nos EUA e desenvolveu – se com o historiador francês Jean Marczewski com materiais estatísticos e equações para o entendimento da evolução econômica. A new economic history é uma escola voltada para a metodologia econômica, com hipóteses para explicações hipotético – dedutivo com uma teoria econômica, tentando provar sua evolução através da lógica e do empirismo. Não poderia deixar de fora a concepção evolucionista da História sem o marxismo. Após a Revolução Bolchevique ( 1917 ), a escola de pensamento marxista tinha como leitmotiv o materialismo histórico, com poucos historiadores profissionais, tendo como um dos pioneiros Pokrovski, estudioso das classes e dos seus movimentos, do Partido Comunista Soviético e da Revolução Russa, porém a repressão e o dogmatismo estalinista implicou na limitação da liberdade da pesquisa científica. Os historiadores franceses Jacques Le Goff e Guy Bois refutam a extensão da esclerose científica, comprometendo a própria historiografia marxista no Leste e Oeste da Europa, fruto dos discursos estereotipados, manipulação escolástica e discursos superficiais dos conceitos. Fora da Cortina de Ferro, o exercício da metafísica e estudos na linha marxista foram possíveis com os renomados e ótimos teóricos do marxismo Antonio Gramsci ( FOTO ) e Georg Lukács, que estudavam as superestruturas e a consolidação da historiografia marxista, compreendendo o processo evolutivo do socialismo. Estágios de sucessão ou como Karl Marx definiu de “épocas progressivas”, porém as características do desenvolvimento histórico: comunidade primitiva, escravismo, feudalismo, capitalismo e socialismo caem por terra quando nos deparamos com o estudo das sociedades antigas do Ocidente e Oriente. O Japão feudal não conheceu o escravismo no estágio anterior ao feudal, e não seguindo este esquema metódico – evolutivo de continuidade geográfica. O historiador que costurou plenamente o marxismo com a história nova foi Michel Vovelle através da história das mentalidades e a compreensão da sensibilidade coletiva no mundo medieval. 


BIBLIOGRAFIA


1 - CARDOSO, Ciro Flamarion, BRIGNOLI, Héctor Pérez. Os Métodos da História. Ed: Graal, Rio de Janeiro, págs 528, 2002;


2 - GOFF, Jacques Le. A História Nova. Ed: Martins Fontes, São Paulo, págs 427, 2005.