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domingo, 4 de setembro de 2011

OPUS DEI E O NASCIMENTO DO OCIDENTE:MENTALIDADE, CULTURA E CRISTANDADE NA IDADE MÉDIA




“O pecador ainda que seja Rei, é escravo, não de um único
homem,mas de tantos senhores quantos sejam seus vícios”

Santo Agostinho



Segundo o historiador Hilário Franco Júnior, a Idade Média pode ser dividida em três períodos: a Alta Idade Média que compreende a queda de Roma em 476 d.C até o ápice do feudalismo clássico que nasceu no antigo e renascentista Império Carolíngio, no século IX. A Idade Média Central com a consolidação do Sacro Império Romano – Germânico entre os séculos X e XIII, tendo o domínio intelectual, corporal e cultural do clero nos feudos e nas cidades.
E temos a Baixa Idade Média entre os séculos XIV e XVI, com a decadência do sistema feudal, a polarização da Peste Negra que alterou significativamente a demografia da Europa em quase 50% [ 1 ]. Temos então, o nascimento do Ocidente pós – queda de Roma com o Concilio de Cartago no século IV, e formalizando a Igreja como única instituição religiosa na Europa.
A Alta Idade Média, como toda a Idade Média, é rica em paradoxos entre a cultura heleno – latina pagã e a cultura judaica – cristã, surgindo uma mentalidade puritana e bem ortodoxa dentro da Igreja, vigiando e punindo, com raras exceções de liberdade. O historiador e herdeiro direto da Escola dos Annales Jacques Le Goff, compara com muita competência a cristandade com a mitologia grega e o seu politeísmo, ou seja, temos uma religiosa monoteísta com um Deus supremo, mas com figuras santas que prestam contas para um Deus maior, assim como deuses gregos prestavam contas para Zeus [ 2 ].
A Europa passava por um turbilhão de emoções com a chegada de novos povos bárbaros, que buscavam terras férteis e temperança, fugindo de climas áridos e extremamente frios, atravessando os Monteis Urais, derrubando definitivamente as barreiras romanas que se encurtaram até o rio Danúbio desde a queda de Adriano, imperador romano da Dinastia dos Antoninos ( 96 – 192 d.C ). A Idade Média é bem definida em dois grupos bem distintos, os estabelecidos e os outsiders [ 3 ] , termos explorados no estudo sociológico de Norbert Elias, sobre uma comunidade inglesa, mas também podemos dizer que é uma herança medieval com os “puros”( insiders ) e “pecadores” ( outsiders ), numa dialética entre a vida material e espiritual, principalmente com um tema pertinente na época o corpo.
O papa Gregório, O Grande definia o corpo de “abominável vestimenta da alma”, como templo da luxúria e gula, entretanto, o corpo também é exaltado na cristandade com o corpo de Cristo e o seu sangue na Santa Ceia, regatando o valor da carne e do sangue: “O Verbo se fez carne”( I, 14 – 18 ) verdadeira opus dei, como podemos encontrar no Evangelho de João. Na história da sexualidade medieval, a mulher é o pecado: “A mulher , pois, vendo que o fruto daquela árvore era bom para se comer, e era formoso, e agradável à vista, tomou dele, e comeu, e deu ao seu marido, que comeu do mesmo fruto com ela” ( III, 21 ). A redenção vem com a Maria, mãe de Deus, símbolo da pureza e do espírito feminino. [ 4 ] Na Idade Média Central temos o ápice do sistema feudal, funcionando com os oratores , aqueles que oram, bellatores aqueles que protegem o feudo e os laboratores, aqueles que trabalham no campo, os servos. A cultura mítica está presente neste período histórico com a Cocanha, um país imaginário, com fartura e abundância de alimentos e bebidas típicas da época, sem trabalho e ociosidade, algo considerado pecaminoso na Igreja [ 5 ]. Carlos Magno tenta restaurar a formação geográfica do antigo Império Romano, buscando resistência das invasões árabes, liderado pelo bem conhecido Gibr Al Tarik, que controlava as zonas portuárias na maioria das cidades na Península Ibérica e região franca e combatido por Carlos Martel.
A Baixa Idade Média representa a falência múltipla da sociedade medieval com doenças, conflitos entre camponeses e jacquerries ( urbanos ), Guerra dos Cem anos entre franceses e ingleses e a Guerra de Reconquista entre árabes e europeus. Na mentalidade cristã medieval, a doença foi enviada por Deus para castigar os pecadores, fruto da doença da alma [ 1 ]. O conflito entre cristãos e muçulmanos ganha consistência na Península Ibérica, cercando cidades como Lisboa, Celta, Vigo, Coimbra, deixando um legado cultural e filológico significativo [ 6 ].
Com a decadência do feudalismo, o burguês medieval ganha força econômica e descrédito da Igreja com a chamada usura, obter lucro, algo considerado imoral para a instituição religiosa até o fim da Idade Moderna. Muitos foram excomungados e enterrados sem receber extrema unção, ou seja, porta fechada para o paraíso e porta de entrada para o inferno [ 7 ]. Entre a Península Balcânica e o Oriente Médio, temos a consolidação do Império Otomano e o fim do Império Bizantino, conquistado pelo muçulmano Maomé II [ 8 ]. A Idade Média é repleta de estereótipos, considerada por alguns como “Idade das Trevas”, pelo simples fato de uma minoria ter monopolizado o saber e as idéias, por outro lado, o historiador Jacques Le Goff define este tempo como o molde do homem moderno e contemporâneo. Para Le Goff, a Idade Média vai além do seu tempo cronológico e encerra o seu ciclo na Revolução Francesa ( 1789 ).


BIBLIOGRAFIA:

[ 1 ] FRANCO JR, Hilário – A Idade Média: O Nascimento do Ocidente – São Paulo: Editora Brasiliense, 2001

[ 2 ] LE GOFF, Jacques – Deus da Idade Média: Conversas com Jean – Louc Pouthier – São Paulo: Editora Civilização Brasileira, 2007

[ 3 ] ELIAS, Norbert – Os Estabelecidos e os Outsiders – Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1999.

[ 4 ] LE GOFF, Jacques e TRUONG, Nicolas: Uma história do corpo na Idade Média – Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira – São Paulo, 2006.

[ 5 ] JR HILÁRIO, Franco – A Cocanha: o mito de um país imaginário, Cotia, SP - Editora Ateliê, 1998.

[ 6 ] SARAMAGO, José – História do cerco de Lisboa: Companhia das Letras, São Paulo, 1989

[ 7 ] LE GOFF, Jacques – A Bolsa e a Vida – Editora Civilização Brasileira – São Paulo, 2007

[ 8 ] GIBBON, EDWARD – Declínio e Queda do Império Romano – Companhia de Bolso, São Paulo, 2006.















Um comentário:

  1. Pô professor, isso é massa cara, eu sou um fã da história dos grandes impérios e também de sociedades "secretas", inclusive as teorias da Conspiração xD

    Muito bom!

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